o que aconteceu com o mundo? quem sou você? eu realmente perdi o fio da meada. eu, eu, eu, sempre eu, tudo eu. quero sumir. só isso. quero esquecer do que aconteceu. principalmente esquecer do cheiro da nuca. meu deus, essa liberdade de dizer qualquer coisa. escrever qualquer coisa. quem mandou ser poeta, rapaz.
esquecer, valdemarzinho, esquecer.
ontem tu te sentisses o próprio chico. é, o buarque.
hoje tu voltasses a ser o faxineiro do prédio da empregada doméstica de uma ex-namorada de um vizinho dele.
hoje o cachorro chutou o bêbado.
agora cai na real, seu idiota. esse tempo todo, ela que estava te guiando.
a mais louca de todos os loucos.
bala, desafio, cinto de couro. velho oeste. ela usa casaco com franja. ela fuma charuto, bebe uísque e arrota. arrota alto. eu queria ser uma banheira com pétalas de rosa. eu queria ser o perfume do poodle dela.
me arrasto pelos cantos da sala. ela é muito mais homem que eu. ela sabe. eu gosto.
nesse dia ela estava comendo macarrão. tinha molho na ponta do nariz. eu resolvi limpar sem pedir licença. ela me olho de um jeito. um jeito, saca? a cara da morte. eu nem vou dizer que me senti um verme. um verme tem algum orgulho. nem que seja o de ser um verme. brilhoso e escorregadio.
aí ela disse que eu tinha sido um menino mau. eu tremi. ela sorriu com o canto da boca.
bala, desafio, cinto de couro. finalmente gozei.
Eu ando pensando com mais freqüência, como seria a cena de sexo, no filme que contasse a história do nosso amor. Como seriam: a luz, os ângulos da câmera, se a gente poria algum efeito especial.
Pensei que a gente podia fazer uma parte com pouquíssima luz, talvez um tom azulado, lembrando a lua, e uns sons bem sutis de respiração, pra marcar o ritmo. Depois entrasse um jazz, talvez um daqueles Miles Davis que levam a gente pra longe já nos primeiros 7 segundos de música. Então tu estarias sentada na cama, nua, de costas, fumando. A luz amarela da lâmpada lembrando a solidão dos corpos separados. A câmera dá um close na tua tatuagem. Fim da cena.
estavam um homem gay e uma mulher louca, num país periférico qualquer, discutindo sobre quem sofria maior preconceito. ali do lado, maria ouvia a conversa aparentemente distante. quando estavam no auge do calor dos argumentos a maria disse: existe uma coisa pior do que ser louca ou gay. é ser drogado. e a gargalhada foi geral. salve a santa globalização dos meios de produção.
Disse o profeta:
A essência do Tai Chi, entendido como o princípio mais sutil do taoísmo, isto é, o wu-wei, a 'não ação'. É a aprendizagem do mover-se com o vento e a água, sem violência, não só nos exercícios, mas também no cotidiano.
do livro Expansão e Recolhimento
TAO TE CHING - CAP.II - Lao Tzu
Todas as distinções aparecem como opostos.
E os opostos nunca estão isolados.
Eles extraem seu significado um do outro.
Eles se complementam mutuamente.
A existência e a inexistência geram-se uma pela outra.
O difícil e o fácil complementam-se um ao outro.
O longo e o curto estabelecem-se um pelo outro.
O alto e o baixo inclinam-se um pelo outro.
O tom e o som são juntos um com o outro.
O antes e o depois seguem-se um pelo outro.
Assim também o Sábio:
Permanece na ação sem agir,
Ensina sem nada dizer.
A todos os seres que o procuram
Ele não se nega
Ele cria, e ainda assim nada tem.
Age e não guarda coisa alguma.
Realizando a obra,
Não se apega a ela.
E, justamente por não se apegar,
Não é abandonado.
pq sempre procurar?
vc nao vai achar
nao vao achar vc
se o mesmo tentando muitas vezes
um probleminha vira um merdão
vc nao vai achar
mas ela sempre te encontra
no mesmo buraco... fundo.
doido, nunca calejado, sempre esperando...
vc nao vai achar
pq parece que vc repele
o estagio x ou y sempre é uma merda
como viver 50 anos com uma pessoa?
vc nunca vai achar
mesmo voando sem asas,
olhando o fim dos 97 segundos,
dizem q depois existe algo a mais,
vc nunca vai encontrar
pq ela nao quer vc
ele quer ver o vermelho
the hell
Lauro Kelevra
el amor en la era de acuario
Disse o profeta:
y sin embargo cuando duermo sin ti contigo sueño
y con todas se duermes a mi lado....
(sabina)
eu sou
um chato que adora beber e falar
e andar e beber e falar
e olhar bem dentro dos olhos e
andar e beber e falar
antes de morrer, aldous huxley recebeu de sua mulher e grande amor por toda uma vida,
uma última dose de LSD
e fez sua passagem multicoloridamente
assim queria eu
e beber e andar e falar
ela me fez pensar na anais nin. que fez contos eróticos lindos. que escrevia com um ritmo, uma pegada masculina. então fiz o desafio: escreve uma história, em primeira pessoa, como se tu fosses um homem. e saiu esse trabalho aí. eu gostei demais. me fez lembrar um pouco também o pedro juan gutiérrez e o calor cubano. misturando tesão ao desespero de sobreviver, como um homem de pau duro e barriga vazia. vamos ao conto da gabriela galvão. o blog dela tá aí do lado.
“Acordei no meio da noite e beijei aquela nuca marcada pelos biquínis –todos do mesmo modelo, a mãe diz q eh “aquele negocinho” -“Aquele negocinho” eh pq ela ouviu q uma das características dos bipolares eh ter vários itens d uma msma coisa. Fica “tirando sarro” dela e ela acha graça.-. Nenhuma reação. Mais beijos, “passada d barba” –ela diz “esfoliação”- e nd. Mais beijos e bronca! “Ñ precisa fazer nd, fica aih quietinha, fica.” Estava d bruços c/ o rosto para mim mas se virou p/ o lado oposto... O corpo inteiro. Aih pronto, facilitou o trabalho do papai aqui. Eu beijei e "esfoliei" o lado esquerdo inteiro daquele corpo. Cada milímetro daquela pele macia e cheirando um cheiro q parece feito pelo mais laborioso, sutil e refinado perfumista d algum interior d um lugar longe do litoral. Ela gemia bem baixo e d qd em qd se retorcia um pouco. Fui beijando e “esfoliando”-a da nuca ao dedão do peh. Então a virei. Ela estava c/ aquele olhar sério e penetrante q lhe eh tão peculiar e diz mtas coisas; inclusive q ela estah cheia d tesão. Nos demos um beijo destes q ateh estimulam a salivação. Ela parecia não querer q aquele beijo terminasse, mas eu tirei cada braço dela do meu pescoço olhando p/ aqueles olhos “mona-lisa” e continuei o q pretendia: lambi o dedão do peh direito ateh lado direito do pescoço dela. O meio estava reservado para as minhas mãos. Eu queria aquela buceta literalmente em minhas mãos. Mostrei um pouco o qt a quero, mas agora eh a minha vz. Não ia ceder, ñ? Eu t mostro o q posso fazer c/ vc. Eu dei uma palmadinha na bucetinha e ela: “Vem cah, vem.” “Psssiu. Fica aih quietinha, fica.” Pegava no grelo dela como quem fuma um cigarro e apertava os lados, fazia uma pressãozinha, espalmava a mão e passava por toda ela, fazia “bilubilubilu” c/ o dedo do meio no grelo, pegava os dois lados e massageava o meio, amassava ela todinha... Ateh q vi o q eu queria ver: ela tremer, esticar td o corpo e jorrar gozo por todos os póros. Peguei meu pau e fiquei esfregando ali, mas soh por um instante. Em seguida eu meti bem fundo, fiz movimentos rápidos e fortes e gozei muito –e rápido- naquela buceta deliciosa. Ela então me disse: “Ah, eh? Agora eh a minha vz, mas eu vou fazer o contrário: vou massagear a parte d trás do seu corpo inteira e no meio, eu vou usar apenas a minha boca.”
é engraçado que aos 39 anos eu tenha finalmente sido transformado num "coroa".
mas como diz o belchior, o novo sempre vem.
sobre a história da grana, esses poucos honestos que ganham dinheiro são como a cenoura que faz o burro andar. nós outros, estúpidos proletariados, somos quem aciona a pedra de afiar aonde a burguesia apronta a faca, pra nos furar o bucho e dar de comer aos seus vícios e deleites.
é como a história da mega sena. iludidos pela chance de abandonar a dureza da vida, milhões enchem a burra do governo, que devolve um por cento do prêmio, de novo a cenoura, a um feliz vitorioso. e torra o resto em sua farra corrupta e burocrática.
mas tem o seguinte:
os pobres não querem acabar com a pobreza. querem é ficar ricos.
e pra haver alguém rico, alguém que acumule, é preciso sempre que hajam muitos outros pobres trabalhando para e por ele. aquela velha mentira linda do marx, a tal mais valia.
ou ainda:
quem gosta de pobreza é intelectual. pobre gosta de luxo. essa do sábio joãosinho trinta. essa frase me faz pensar no sucesso das novelas da globo. ou aquele programa imbecil de sábado à tarde que a tal angélica faz, mostrando a vida milionária dos globais. tudo é lindo. comida linda, casas lindas, pessoas lindas. alento pra massa rude e ignara.
Carta de Artaud a Anais Nin
( junho de 1933 )
Levei bastante gente, homens e mulheres. Para ver aquela tela maravilhosa, mas foi a primeira vez que eu vi uma emoção artística tocar um ser e fazê-la palpitar com amor. Os seus sentidos estremeceram e eu dei conta de em que você o corpo e o espírito estão formidavelmente ligados, a ponto de uma pura impressão espiritual fazer detonar em seu organismo uma tormenta tão poderosa. Mas nesse casamento insólito é o espírito que predomina sobre o corpo e que terminará por dominar tudo. Sinto em você um mundo de coisas que pedem para nascer se encontrarem , o exorcista adequado.Você própria não tem plena consciência mas você invoca essas coisas com todo seu espírito e sobretudo os seus sentidos, seus sentidos de mulher que, em você, são também os sentidos do espírito .Sendo o que você é devia compreender a grande alegria dolorosa e mesmo a estupefação que experimento por tê-la encontrado assim: de um único golpe vejo... hermeticamente preenchida a minha solidão sentimental infinita, e preenchida de uma maneira que me perturba, o destino me trouxe desesperar de possuir; e como tudo o que o destino traz, tudo o que é inelutável e resolvido pelos céus. Isso me vem contra todos, sem nenhuma hesitação, espontaneamente, de repente, sem medo, lindo de meter medo! Posso acreditar que os mistérios são coisas deste mundo, pois eu e você somos deste mundo, nosso encontro é perfeito demais e me deixa estupefacto por uma espécie de dor. Além disso, há o fato de que meu espírito, minha vida é uma série de iluminações de eclipses e esses eclipses que acontecem em mim, acontecem também em torno de mim, em tudo aquilo que eu toco e não quero ser para quem se aproxima de mim, uma decepção. Você já teve ocasião de ver: em certos pontos tenho intuições, revelações fulgurantes e em outras não sou mais que trevas e idiotices, as coisas mais simples me escapam e torna-se preciso uma compreensão de rara sutileza para admitir, para aceitar essa mistura, uma vez que essas trevas afetam os sentimentos que tosos têm o direito de esperar de mim. Muitas coisas nos aproximam terrivelmente, mas, sobretudo uma delas: nosso silêncio. Você tem um silêncio veemente onde se pode dizer que se sente passar as essências, eu o sinto estranhamente vivo. Como um alçapão aberto sobre o abismo, onde se pode sentir o murmúrio silencioso e secreto da terra. Não há nada de poesia inútil e fabricada em tudo isto que te digo você bem sabe disso. Quero traduzir expressões fortes, impressões reais que tive a respeito de coisas que não se fala habitualmente. Na plataforma da estação, quando eu te disse: somos como duas almas perdidas nos espaços infinitos, senti passar o silêncio móvel que me faltava e que teria sido capaz de me fazer sangrar de alegria. Você me põe face a face comigo e eu sinto que posso não me envergonhar, quero você de abraços violentos, quero entrar em você, repousar em você e que sintamos juntos aquela vibração plena, você e eu aquela vibração que faz brotar à luz do dia as coisas do espírito. Só com você pode um abraço não se inútil, colocando em contato magnetismos contrários e que, aliando-se, a estabeleceria um ciclo perfeito. Já que você habita o mesmo domínio, podia muito bem me dar o que me falta, ser meu complemento. Se nossos espíritos amam as mesmas imagens, desejam as mesmas formas, s mesma aparições fisicamente, organicamente, você é o calor enquanto eu sou o frio, a coisa ondulante, macia, voluptuosa, acariciante, enquanto eu sou o duro sílex, a vegetação calcinada e fóssil, a obsidiana, o duro mineral. Uma necessidade violenta e que é maior que você e eu, empurrou você pra mim, você compreendeu isso imediatamente, você percebeu as formidáveis semelhanças e o bem que poderia me fazer e que está destinada a me fazer mas como eu por momentos, fico cego, tenho medo que o destino a deixe cega também, que você perca bruscamente o contato com todas as descobertas, com essa vida que me deve maravilhar, tenho medo, pra dizer tudo, que o teu corpo, de repente, a domine e que você não me reconheça mais o que, então, num desses períodos em que eu a perca inteiramente.alguma coisa de maravilhoso acaba de começar e isso pode preencher toda a vida, e lhe digo isso com toda a sinceridade de minha alma, toda a serenidade e toda a gravidade de que sou capaz, depois de oito dias. Amanhã fará oito dias que senti minha vida radicalmente transformada e ontem foi a consagração material dessa transformação radical. Me escreva, me escreva uma carta humana, completa, dizendo qual o preço que você cobra pela nossa união e as razões que te levam a dizer que você desconfia de mim em certo plano. Quando te peço que me explicite o preço de nossa união quero é leva-la a fazer brotar diante mim imagens em que se sinta a nossa própria vida.Desde ontem sinto o gosto de uma boca de mulher que me persegue, mas como uma idéia, como uma essência.Esse gosto não é coisa de corpo, ele me desnuda o sentido mesmo de uma alma, ele me ensina muitas coisas sobre toda uma vi9da secreta que sem ele eu nunca conheceria. Tenho nome que minha mãe me deu quando eu tinha quatro anos e que meus íntimos usam comigo: Nanaqui. Ele me descreve na minha inocência e no mais puro de minha vida.
Nanaqui.
Antonin Artaud
Num domingo, no início da tarde, eles conversam pelo msn:
Ela diz:
bem, mas foi o casamento dele, daí reuniu todo o povo da faculdade, bohemia 600ml de balde...não poderia dar em outra..RESSACÃO
Ele diz:
magavilha.
coquinha gelada com uma rodela de limão e muito gelo,
servida numa bandeija, enquanto tu estás deitadinha na espreguiçadeira, pegando sol, e no fundo toca um samba bem baixinho, com aquelas caixas de som invisíveis de hotel, com um leve eco no som, por causa do tamanho da piscina.
nada como a imaginação.
Ela diz:
é verdade...hehe
aquele sol bem quentinho né...
ai ai
Ele diz:
perninha cruzada, chupando no canudinho vermelho,
olhando o copo suado e sentindo o gosto da coca escorrendo pela gargantal,
como um rio bravo pelo canion seco.
Ela diz:
huahahuahkua
Karine alexandrino é uma entidade vulgar. Uma pomba-gira virtual, eletrônica. Ela despeja seus raios de amor latino no meu cerebelo desprotegido. Ela me guia por caminhos que não quero conhecer. Ela me amanhece sem suco de laranja ou torrada. Karine é minha fritura matinal. Meu pastel de carne com ovo.
Eu amo Karine Alexandrino há muito tempo, mas ela felizmente me ignora solenemente. Eu sou um desses bêbados chatos, que ficam babando no ídolo. Coisas do tipo: eu admiro teu trabalho há muito tempo. E no fundo só fica pensando em tirar as calcinhas cheias de babado dela. Eu faço parte da comunidade dela no orkut: “complexo de bukowski”. Eu adicionei o fotolog dela. Eu ouço os sucessos no meu mp3, pelas ruas frias da minha cidade. Mas eu nunca vi nenhum show dela. Eu nunca encontrei a mulher tombada.
Mas eu prefiro assim. Vai que no fundo ela é uma chata? Que tá numa trip narcisista? Que tem joanete?
Bora passear em pasárgada, morena? Isso eu diria pra ela. Mesmo que tivesse que atravessar o balcão do bar esfumaçado. E ela tivesse acompanhada de uma biba japonesa de cabelo verde, que ficasse fazendo cara de nojo pra mim o tempo todo. E a cerveja fosse cara e quente. E só tivesse bavária.
Meu deus, eu sou um fã. Não, deus, por favor, acabe logo com a minha miséria.
louis cypher, do canto da sala, exibia sua risada silenciosa. ela mordeu a pimenta, deu uma bicadinha da marafa. tudo volta ao seu lugar. mas não há mais lugar.
a luz vermelha renitente, continua piscando e deixando impossível perceber nuances. a eletrola carca um barto galeno na veia da puta velha, que chacoalha distraída a chave da porta do quartinho fedido nos fundos.
trambolhos estéticos, lugares antiéticos, personas coléricas, coleiras para céticos.
tudo a preços módicos.
RECEITA DE FRANGO COM WHISKY... Muito boa receita, eu ainda não fiz, estou esperando uma oportunidade, uma festa...quem sabe no meu aniversario...tá perto ..... Ótima pra fazer em dias de festa. Ingredientes:- 01 garrafa de whisky (do bom claro!)- 01 frango de aproximadamente 02 quilos- sal, pimenta e cheiro verde a gosto- 350 ml de azeite de oliva extra Virgem- nozes moídas Modo de preparar:- pegue o frango- beba um copo de whisky- envolver o frango e temperá-lo com sal, pimenta e cheiro verde a gosto.- massageá-lo com azeite.- Pré-aquecer o forno por aproximadamente 10 minutos.- Sirva-se de uma boa dose (caprichada) de whisky enquanto aguarda.- Use as nozes moídas como 'tira gosto'.- Colocar o frango em uma assadeira grande.- Sirva-se de mais duas doses de whisky.- Axustar o terbostato na marca 3 , e debois de uns vinch binutos,botar para assassinar. - digu: assar a ave.- Derrubar uma dose de whisky debois de beia hora, formar abaertura egontrolar a assadura do frango.- Tentar zentar na gadeira, servir-se de uoooooooootra dose sarada de whisky.- Cozer(?), costurar(?), cozinhar, sei lá, voda-se o vrango.- Deixáááá o filho da buta do pato no vorno por umas 4 horas.- Tentar retirar o vrango do vorno. Num vai guemar a mão, garaio!- Mandar mais uma boa dose de whisky pra dentro . . De você, é claro.- Tentar novamente tirar o sacana do vrango do vorno, porque na primeira teenndadiiiva dããão deeeeuuuuuu.- Begar o vrango que gaiu no jão e enjugar o filho da buta com o bano de jão e cologá-lo numa pandeja ou qualquer outra borra, bois avinal você nem gosssssssssta muito dessa bosta mesmo.- Tá Bronto.
Cleonice Bertasso
SUN TZU | ||
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O princípio geral da guerra é : "manter o estado do inimigo intacto, dominar seu o exército e forçá-lo à rendição é melhor do que esmagá-lo". Assim, a melhor política para as operações militares é obter a vitória, atacando a estratégia do inimigo. A segunda melhor política é desintegrar as alianças do inimigo por meio da diplomacia; em seguida, atacar soldados, lançando um ataque ao inimigo; mas, a pior política é atacar violentamente cidades fortificadas e subjugar territórios.
"...aquele que conhece o inimigo e a si mesmo, lutará cem batalhas sem perigo de derrota; para aquele que não conhece o inimigo, mas conhece a si mesmo, as chances para a vitória ou para a derrota serão iguais; aquele que não conhece nem o inimigo e nem a si próprio, será derrotado em todas as batalhas." |
Que guerra é essa em que fomos nos meter, companheiro, que estamos todos meio surdos e cegos. Que não sabemos mais o que um dia nos uniu. Que inimigo poderoso é esse que transtorna nossos pensamentos, sem que jamais percebamos qualquer movimento seu? Que a simplicidade que nos fazia saborear a doce fraternidade, a solidariedade e a cooperação, hoje está reduzida a alguns gritos, a bocas tortas, deformadas pelo ódio.
Eu sou um que não entende tanta dor. Eu sou um que sente saudades do futuro que sonhamos juntos. Nossos adversários sempre souberam das nossas fraquezas. Porque combatemos o bom combate, de peito aberto. Mas agora não mais, camarada. Não mais.
Agora vamos recolher os trapos velhos que nos restaram. A pouca memória que ainda sussura em nossos cérebros. E vamos voltar pras árvores, pras cavernas. Vamos ser novamente o vento. E nada mais.
Tá ouvindo? Esse tic tac? Tá comigo. Sou eu. É melhor não chegar perto. É aconselhável procurar outra estrada. A qualquer momento vai acontecer e não é bonito de se ver. Incomoda, gera dúvidas.
Ficar por perto é ter que pensar: o que será que realmente vale à pena? Cada minuto, cada segundo, vai ficando precioso, indispensável. Cada decisão, a última. Pra que viver? Quais são os desejos mais intensos e subterrâneos? Tudo isso vai acontecendo por aqui.
Tic tac. Tic tac. Com quem você passaria sua última noite? Que boca beijaria? Que palavras são basilares nessa sua construção? Uma chuva incessante de perguntas. O tempo todo. Perto de mim.
Vai, foge agora enquanto é possível. Procura a vida calma da civilização. Procura a sombra benigna do status quo.
Aqui só tem uma pressão insuportável. E esse tic tac ensurdecedor. De tão alto, ninguém mais ouve. Mas se você parar um segundo e se conseguir me ver. Num vislumbre poderá perceber que só aqui comigo está o que você procura. Você finalmente me encontrou.
Eu sou o significado mais oculto do teu sonho. O relógio que escorre pela mesa. Eu sou a última curva, antes do abraço, na linha de chegada. Eu sou o prelúdio do grande vazio.
Eu sou o grande amor do mundo.
Tic tac
57º Congresso Internacional do Medo
No princípio é o medo.
Todo boi é da cara preta. Todo bicho é papão. Todo suor é frio. Todo terror, noturno. Há um monstro embaixo de cada cama. Há um monstro embaixo de cada país.
A indústria do medo, as plantações de pavor, o comércio do susto, a genética da fobia, a clonagem do terror. Este, o sentimento do mundo.
Só existem noites. O sol fugiu para outra galáxia, em busca de outra humanidade. Mas as sombras permanecem. E têm medo da própria sombra.
Mas o mal não chega mais. Fica sempre à espreita, na próxima esquina. E as esquinas também não chegam. Estão sempre no próximo passo. Que ninguém dará.
Alcançamos o reino da liberdade, nenhuma porta mais tem chave. Pode ser aberta a qualquer hora por qualquer um. Não há mais miseráveis nem despossuídos. Todos tem o que perder. E não é mais necessário desconfiar de ninguém. Todos são inimigos.
Preparamos uma canção que enlouquece os homens e acorda as crianças. Nosso hino, a ser cantado nas igrejas, nas escolas, nos estádios, em todos os lugares de encontro. Se encontros houvesse.
É obrigatório sonhar. E os sonhos são abismos, ondas, nudez na multidão, pernas que não saem do lugar. E o ar pesado, inquieto, que não se deixa respirar.
Ninguém mais morre de medo. Não se toca nesse assunto, não se pensa essa palavra. Ficamos todos vivos, pressentindo a morte, que a terra havia de comer. Mas já não come. E vomita sua morte, enjoada de você.
Já não se gritam os gritos, que se enredam, guardados na gargantas. Chegou o tempo em que não se diz mais.
Toda mão está suja, toda fotografia dói, toda memória é remorso. O esquecimento está morto.
Toda canção é do exílio. Todo trabalho é forçado. E chegou a vez da esperança. É a única que morre.
Mas não se preocupe, a importância não tem mais importância.
Os sertões murcharam, os mares se afogaram, os desertos sumiram. As flores se mataram, os soldados atrofiaram, as mães desertaram, os ditadores choraram, os democratas fugiram. O que restou? Quem sabe? Não há ninguém para responder. Não há ninguém para perguntar.
A partir de hoje, cada um já nasce com seu próprio pânico. E nas maternidades estão brotando flores amarelas e medrosas.
César Cardoso (na revista Caros Amigos de novembro de 2003)
E apesar de todas as boas intenções das mulheres, que permanecem lutando pela igualdade de direitos e deveres, ainda estamos diante de questões tão antigas e complexas como a presença de um útero e um saco, nas nossas longas discussões noite afora.
Eu me sinto um estrangeiro nessas relações de poder, reforçadas pela pressão do sistema que nos imputa uma troca, tão fatal para o prazer. Vender a própria vida para obtenção de coisas, coisas, coisas, especialmente desenhadas para despertar o desejo, mas nunca saciá-lo.
Como te propor uma forma diferenciada de lidar com essas carências, medos e solidão a dois?
Como desvendar a grande trama que está por trás da trama e manter: a fé, a coragem e a paciência (a sapiência do espírito, como diz B Negão)?
Como te deixar ver que tipo de futuro eu sonhei, que esmagou desse jeito o meu presente, por sentir que não poderei alcançá-lo?
E dentro de mim resta esse imenso carinho, essa desordem de criança no seu quarto de brinquedos. Estar eternamente incompleto e mesmo assim seguir. Como no exercício monstruoso de combinar versos e gestos pra te seduzir.
um bocadinho de clarice, que é bom pra afinar o sangue, clarear as vistas e liberar as vias respiratórias.
O NASCIMENTO DO PRAZER
(trecho)
O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.
POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS
Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou
Clarice Lispector
Essa eu desenterrei do dia 11 de março de 2005.
rage
Todos temos o direito de sermos e termos na medida exata de nossas capacidades. Menos quando se fala no amor. Neste universo são outras as leis e a medida do que seremos cobrados pela justiça divina é a do nosso egoísmo. Isso é definitivo. Eu vou pro céu!
A minha mão toca a mão de deus e do diabo, quando te digo: vem. Porque em mim moram o ódio profundo e o amor sem fim.
Dividido e reagrupado pela dor e pela luz do sol, toda força que emanar do meu coração é a de mil terremotos. Cuida que tua alma esteja guardada nessa hora. Minha fúria é autêntica e eficaz. Seu destino é certo e não há tempo para arrependimentos.
Tudo o mais é superfície.
Todo dia será o último.
E a dor, eternamente cobrada pelos anjos do senhor.
Ruído Subterrâneo
É força, é raiva, é abrir um açougue exasperante. Não se trata do que vamos fazer, mas sim do lugar vazio entre dois gestos, não um absoluto mas sim uma pequena porção de energia dirigida a você, para que não morra ainda. Amo você porque nada significa para mim, e se é tão inteligente deveria saber disso.
Seca como uma lápide sem nome. Ignorada como um bolo de cenoura no aniversário de um canibal. Boas tetas, mas se você as leva a sério, é feio Kierkegaard, o que vai ser de nós.
Nunca jantamos à luz de velas, nunca beijei seus lábios nem passei a mão na sua bunda. No meu coração há um buraco. Toda noite eu lhe desejo uma idéia enorme que estilhace seu cérebro enfastiado em mil fragmentos pontiagudos como lascas de explosão. Menina, quando você vier ao pavilhão psiquiátrico da minha prisão não se esqueça do livro de versos da Erica Jong, não esqueça que você agora é um retrato no canto dos masturbadores, dos pensadores, dos imaginadores.
Não tenho cavalo, nem pau grandão... Meu sorriso não vale um milhão de dólares, meu esporte é secreto. Não danço nem canto, mas se alguém machucasse você eu o mataria em cinco segundos.
Efraim Medina Reyes no livro Pistoleiros/Putas e Dementes
A solidão do poema
Inventamos as palavras para sobreviver, para com elas construirmos pensamentos e imagens
Sempre tive a curiosidade de ver o que aconteceria se um poema fosse lido durante um programa de televisão bem popular, por exemplo, o programa do Faustão. Uma pausa, e um bom ator leria um poema, com a precisão e o timbre que a poesia requer. Faustão de lado, microfone na mão, silencioso, sem saber o que fazer. As dançarinas de microssaias com o fôlego suspenso. Apenas o ruído do poema. O que aconteceria? O ibope iria a zero? O país cairia no sono? Haveria protestos na rua, saques? Tenho certeza que se fosse um poema ruim, de um amador, ou um poema maneirista, oblíquo e dissimulado, fino produto da poesia universitária (assim como há um forró universitário, há também uma poesia universitária), se fosse um poema ruim, o país, entorpecido, morreria de tédio. Mas e se fosse um grande poema, de Pessoa, Drummond, ou o poema de Montale que comentarei nessa crônica? Não sei, tenho minhas dúvidas. Além do caos, talvez uma breve suspensão da descrença.
Por que a poesia causa espanto? Além do irremediável tédio, que na ausência da experiência comprovadora no Faustão, ainda precisa ser bem medido. Uma das razões do espanto me parece evidente: a poesia reflete um estado mental do autor (ou de uma ficção do autor). Entreabrimos, por alguns segundos, a consciência de outra pessoa, que nos está vedada por princípio. Somos arrancados de nossa solidão de seres conscientes, e brutalmente devolvidos a nós mesmos, no fim do poema. O que acontece com o poema que nos ilude dessa forma?
A neurociência (a verdadeira, não a de auto-ajuda) tem feito descobertas impressionantes sobre a mente humana. Não faz mais nenhum sentido dizer que a ciência estuda a matéria, o mundo físico, ao passo que a filosofia e a literatura teriam como matéria prima a alma, o mundo mental. Os neurocientistas ultrapassaram a barreira do mental, e investigam, por exemplo, a natureza dos estados conscientes. O que é um estado consciente? É uma percepção de segundo grau. Se você percebe um objeto vermelho, você teve uma experiência da cor, mas o estado consciente nasce quando você percebe que percebe a cor vermelha. Você sente que sente, ou se vê pensando. É daí que nasce o eu, que é uma história que liga todas as sensações, todos os estados mentais. E o mistério (ou drama) é que esse estado consciente é único e intransferível: só quem está consciente da percepção do vermelho pode sentir o que é perceber a cor vermelha. Mesmo que eu e você usemos a palavra "vermelho", eu não posso sentir a sensação por você, e nem você pode senti-la por mim. A cor é individual. Estamos condenados à solidão da mente que percebe.
E os cientistas se vêem num dilema, talvez não insolúvel do ponto de vista científico, mas certamente perene do ponto de vista humano. O caso é o seguinte. Suponha que uma neurocientista brilhante tenha vivido toda a sua vida isolada numa sala branca e preta. Depois de longos estudos, ela se tornou uma grande especialista na percepção da cor. Ela conhece todas as conexões neuronais responsáveis pela percepção da cor, domina todos os aspectos físicos e biológicos da cor. Bem, essa neurocientista sabe como funciona e como se engendra a consciência que percebe a cor vermelha, mas é incapaz de vivenciar a cor vermelha, de senti-la. Portanto, não se pode reduzir um estado consciente a um estado físico. Algo se perde no caminho (essa historinha da neurocientista foi bolada pelo filósofo Frank Jackson). Resultado: podemos abrir o cérebro de alguém, espiar lá dentro, mas ainda assim não sentiremos o que esse cérebro sente. Nem pensaremos o que ele pensa. Somos consciências incomunicáveis.
Como isso se liga à poesia, ou ao Faustão? Acho que uma leitura de um grande poema no horário nobre do domingo lançaria uma ponte inesperada sobre as outras mentes que nos circundam. Sim, o poema engana a consciência isolada, o poema torna o mundo mental algo que pode ser compartilhado. Eu acho que só duas coisas fazem isso no mundo: o poema e o amor. São ilusões essenciais contra a solidão.
O poema de Montale (é um de meus poetas favoritos) que gostaria de comentar ilustra essa fuga da solidão da consciência, e o brusco retorno ao mundo do eu, que se fecha sobre si mesmo, como uma concha. O poema se chama Corne-inglês (um instrumento de sopro), e tem uma estrutura muito simples, em três movimentos. Num primeiro movimento, o poema descreve com precisão poética o ruído de uma tempestade ou ventania (daí o título, evocando o ruído produzido pelo instrumento). (As traduções são minhas).
Il vento che stasera suona attento
- ricorda um forte scotere di lame -
Gli strumenti dei fitti alberi e spazza
Lorizzonte di rame.
(O vento que esta tarde toca atento
- lembrando um choque vibrante de lâminas -
Os instrumentos dos galhos, e sopra
O horizonte de cobre).
O poema cria um correlato objetivo do mundo mental de um indivíduo (que é uma personagem, mas tão real quanto um eu). O poema não imita esse estado mental, o poema busca criar um estado mental similar no leitor/ouvinte. O poema é um transmissor de estados conscientes. É um criador de eus. Entramos inesperadamente num mundo que não é o nosso nem nunca poderá ser nosso, pois é um mundo mental de outra pessoa, inabitável por definição. E o espantoso é que esse efeito ilusório é obtido com as mesmas palavras de todos os dias. E uma palavra é um conceito, não uma sensação. Inventamos as palavras para sobreviver, mas os conceitos que elas evocam são meros instrumentos para a construção de pensamentos e de imagens, e estes são totalmente individuais e inalienáveis. Se eu uso a palavra vermelho e você também, ok, temos um conceito, mas não temos a sensação correspondente. Isso só a solidão produz. E você pensar nisso também é intransferível. Você pensar no vermelho é tão solitário quanto senti-lo.Então por que a prerrogativa do poema de, usando conceitos, produzir imagens e pensamentos que não são nossos, mas que podemos sentir como vindo de dentro de nós mesmos? É ilusão de ótica. O poeta é um ilusionista. Montale cria um vento que toca trombone nas árvores, e varre o horizonte escuro, nebuloso, cor de cobre. Essa associação de imagens parece reproduzir o que se passa na mente de alguém, mas não há palavras para isso, só uma colisão de sílabas. Uma mente não é decomponível
Mas o poeta logo apreende uma possibilidade assustadora e mágica: e se houvesse um mundo além do que posso sentir com o meu eu, um mundo além da sala em preto e branco em que vive a neurocientista inventada pelo filósofo? Um mundo além da caverna da mente, superior ao eu, real mas purificado da ilusão? Comunicável?
Essa ilusão da transcendência é uma tentação constante da poesia. Se a poesia transmite estados da mente, então ela seria, em tese, capaz de evocar um mundo transcendental, compartilhado entre todas as mentes. Mas o que seria esse mundo, senão pura evocação? Essa evocação de um mundo supra-individual corresponde ao segundo movimento do poema:
(nuvole in viaggio, chiari
Reami di lassù! Dalti Eldoradi
Malchiuse porte!)
(nuvens
Nos
Na alta Miragem!).
Montale fala em Eldorado, na minha tradução pus diretamente Miragem. O Eldorado é o sonho do fim do eu solitário. Mas é uma miragem. Como seria esse mundo sem o eu que percebe a cor vermelha?
Finalmente, o poema retorna à evocação da tempestade e termina em si mesmo, no coração do poema:
Il vento che nasce e muore
Nellora che lenta sannera
Suonasse te pure stasera
Scordato instrumento,
Cuore
Se o vento que nasce
E
Pudesse tocar as cordas
Do instrumento desafinado,
O coração.
A tempestade começou lá fora, como entidade externa à mente, mas sensível nela, depois migrou para as altas nuvens, em tese superiores ao eu, mas o ruído da tempestade termina ali, de onde, na verdade, nunca saiu: no coração do poema. Agora não mais sabemos se essa mente que sente a tempestade pode ser nossa ou se é algo que perdemos para sempre, além de nós mesmos.
HERON MOURA | Poeta, professor de Lingüística da UFSC, autor de O Respirante (7Letras), entre outros
E quando ela surta?
E fica andando e falando sem parar, atrás de mim. Vou pela cozinha, pela sala, mexo no controle remoto e nada. Quando eu entro no banheiro ela quer vir junto. Como se não visse nada, não ouvisse nada, além do que ela tem pra falar. Aí eu levanto a mão. Segura a onda, Dona Maria. Já volto. Mas continuo ouvindo a voz dela sem parar do outro lado da porta.
o cheiro do ralo
Porque, Oscar Wilde? Porque, Dorian Gray? Porque o meu mundo tem que ser sempre feio? Por que, tudo sobe o ralo para me ver? Porque fui inventar de tomar banho? Porque? Porque tudo tem que ter um porque? Porque a vida não é como os sonhos? Porque na minha vida esses limites se fundem? Porque não fica uma coisa em cada lugar? O que é sonho, no sonho e o demais nos demais? Porque tudo se mistura? Porque tudo se funde, mesmo quando tomo os remédios? Porque o louco, sempre tem que ser eu?
Lourenço Mutarelli
Sabe eu tenho esse hábito estranho, quase rude, de ficar procurando coisas novas. Caminhos pisados não me fazem brilhar os olhos. Mas a vida está me trazendo informações sobre o Bispo do Rosário. Numa revista, numa peça, num trabalho, pela namorada. Eu não sou apaixonado pelo trabalho da Nise (pedras e chutes para a caixa postal 2331). Mas já que a coisa está vindo, eu estou olhando. E estou gostando. Esse texto que saiu na última revista Piauí (17) é muito bonito. É o Daniel Mason fazendo uma ficção sobre a vida do artista. Mas ele se coloca no lugar do Bispo e fala em primeira pessoa.
DRAGÕES E MOCRÉIAS
O verão ainda não acabou. Para todo o lado que se olha só se vê bundão, coxão peitão, sapatão... Epa! SAPATÃO? É isso mesmo, é na temporada de caça que as armadilhas funcionam e você tem de estar esperto. Qualquer festinha pode virar festa do Lago Ness, se você marcar toca.
Nossos cientistas prepararam com muito carinho e Atalaia Jurubeba, um pequeno estudo sobre os Dragões e as Mocréias para que você esteja mais a par da fauna que assola esta maravilhosa e traiçoeira estação plena de aventura, fantasia e muito césio, drogas e roquenrou!
DRAGÕES (vulgarmente conhecido como Dragão)
Temos de convir que o estudo desta mutação da espécie humana tem evoluído de maneira bastante lenta e irregular. Pouquíssimos pesquisadores são suficientemente piroca das idéias para manter um relacionamento mais constante com os dragões, o que dificulta de sobre maneira estas pesquisas.
Contudo, podemos afirmar que os dragões são (re)conhecidos, de preferência à distância, em três modalidades básicas: os RUINS de comer, os MUITO RUINS de comer e os IMPOSSÍVEIS de comer.
Devido a sua constante intenção de chegar junto, os dragões esbarram na gente nas mais variadas ocasiões e situações, mas apresentam real perigo nas madrugadas e nos fins de noite, principalmente quando a graduação alcoólica extrapola os 51 graus P.L.Z.B. (Pra Lá de Zuzu Bem).
É nessa hora que o dragão adquire suas fantásticas capacidades miméticas, que leva o mais incauto e afoito a achar que “dá pra encarar”. Daí para a ruína moral e física é um passo.
A grande sumidade no assunto, Prof. Dr. Edílson Suplicy, em seu livro “Mitos Afro-Brasileiros, Sexualidade e Alcoolismo”, afirma que os filhos do orixá OGUM, conhecido São Jorge, emérito abatedor de dragões e chegado a um goro e a uma batalha, são os mais suscetíveis a se envolverem com os “dragos”.
Outros dois grandes experts no assunto, os Drs. Wallami Karpano e Bajara Nacajarda, autores do best-seller “As Brumas do Valão” – a mais completa obra já editada sobre o assunto – podem afirmar, depois de décadas de abnegadas pesquisas, que 100% dos casos de conjunção intima com dragões, ocasionam os seguintes efeitos colaterais imediatos: sonolência incontrolável, paumolência total e absoluta e a chamada síndrome de catapulta, que se manifesta quase sempre na manhã seguinte ao contato. Consiste em:
1- Que merda é essa?
2- Vontade incontrolável de baixar porrada.
3- Necessidade incontrolável de arremessar aquilo com força e à distância pela janela mais próxima.
4- Ressaca feladaputa.
Passemos agora à classificação dos dragões para que você possa estar mais apto a identificar e se defender do mal.
1 – DRAGÃO REAL
É o dragão por excelência, não tem jeito de ser outra coisa. É reconhecido a léguas como tal. Geralmente fuma sem parar pra que não se perceba que a fumaça expelida ininterruptamente por seu nariz é de origem orgânica. Tem de a pegar no pé e, quase sempre, não larga nem com macumba ou trovoada. Divide-se em duas subcategorias:
a) DRAGÃO DE PENACHO – tem grana e por isso certo poder de fogo. Normalmente anda cheio de ouro e outros badulaques pendurados. Tem gente que come por interesse. Várias chegam a ser cantoras de samba, funk ou MPB. Outras apresentadoras de TV e do Telejornal HOJE, da Globo.
b) DRAGÃO DI KABILÊRA – Gênero doméstico do dragão (não confundir com a rádio patroa, que é uma qualidade e não gênero). É o dragão mais agulhado, principalmente se vier num kit completo, acompanhado por dois ou três bacurinhos catarrentos chorando pracaralho. Tem gente que tem de comer por obrigação. É assim chamado por estar sempre “di kabilera” com seu consorte que, se for você, é bem feito. Quem mandou casar com dragão?
2 – TURÚ
Gênero de dragão com certa independência pessoal ou capacidade intelectual, o que lhe dá grande periculosidade por que gera uma autonomia acima da média, podendo, assim, estar presente em locais de grande suscetibilidade a seus ataques. Quando enriquece tende a transmutar-se em Dragão de Penacho e, quando se casa, em Dragão di Kabilêra (em geral os piores, já tem argumento para tudo). Os Turús, por suas sensibilidade e capacidade intelectual, podem ser ARTÍSTICOS, ESOTÉRICOS ou MILITANTES. Alguns podem misturar estas qualidades como, por exemplo, ex-cantoras de Rock que se tornam astrólogas. Outras chegam a deputadas pelo PT. Suas subcategorias são:
a) Turú Saracura – Forma um pouco mais rara e menos embuchada de Turú. Com o tempo tende a empenar. Depois da oitava vodka pode se camuflar em Raimunda Falsa Magra. Cuidado. Muitos comem por falta de alternativa.
b) Turú Tamborete: (ou simplesmente Tamborete) – Turú mais encontradiço, de escassa mimética. Com o tempo tende irremediavelmente a embaiacar. Quando em decadência se transforma na terrível Bruaca (ou Canhão), forma agravada e irreversível do Turú, podendo chegar até o estágio Berta Nutels (ou Rose Muraro), que é considerado um passo antes do Homem-elefante. Muito cuidado. Muitos nem comem.
3 – JABURU
É o dragão menos favorecido intelectualmente, não tem, normalmente, opinião formada sobre porra nenhuma e fica só lá presente com sua jaburice e aquela expressão que nos fala ao instinto atávico de arriar a mão naqueles cornos escrotos. Serve quase sempre de acompanhantes dos Turús e guardam um sorumbático silêncio, o qual advêm do medo congênito de falar alguma merda e atrapalhar o bote do Turú. Muitos comem para não ficar à toa. Outros ficam à toa para não comer. Divide-se em três subcategorias. São elas:
a) Jaburanca – quase impossível uma sobrevida muito longa após se carcar uma Jaburanca e o sofrimento físico e moral é muito grande. Abra um ferro-velho em Goiânia, mas não passe a manguaba numa Jaburanca, em hipótese nenhuma. Cabelo na palma da mão não é nada.
b) Jaburéia – um pouco menos grave que a Jaburanca. Há uma certa possibilidade de sobrevivência neste caso, principalmente se esta estiver em evolução para Jabureide. Contudo, não se deve arriscar. Alguns chegam a comer por falta de grana pra compra Playboy. Em todo o caso, se inevitável, aconselha-se o uso de camisinha, venda, walk-man e fronha.
c) Jabureide – a Jabureide é um estado limítrofe entre dragão e mocréia, para qual ainda resta uma esperança de levantando um troco e passando a andar com uma tchurminha mais interessante, ascender à condição de aratanha, gênero de mocréia acompanhante que estudaremos a seguir.
Dependendo do ângulo e da situação, a jabureide pode ser considerada comível (não tem nego que se amarra em jiló e rabo de jacaré com maxixe?), principalmente em situações de seguração de vela em acampamentos, excursões e pequenas viagens. Na falta de gererê, baralho ou violão. Não é difícil de ser cantada e dá mole fácil. Dizem que certos homeopatas unicistas mantêm haréns secretos de Jabureides e Aratanhas para estudar o seu comportamento limítrofe e trocar o óleo quinzenalmente, quando ficar russo.
- MOCRÉIAS
A Mocréia, mais que uma classificação especifica um tipo físico, traduz um jeito de ser, uma maneira de ver e levar a vida. Ou seja, você pode descolar aquele broto maneiro, tremendo aviãozinho e tal, achando que é a gata da sua vida e, de repente, perceber que se trata de uma legítima Mocréia. A Mocréia não é necessariamente escrota, de forma alguma, e é aí que reside seu grande perigo, visto que a convivência mais prolongada com uma Mocréia tende a atrofiar a inteligência e nublar o senso de ridículo. Vamos, pois a classificação:
1 – MOCRÉIA REAL
É a Mocréia por excelência. Bastante ou razoavelmente comível e facilmente classificável e identificável pelo teste BAJARANACA, ou seja: unhão pintado (inclusive no pé), dentinho preto, salto alto, leve mau hálito, cabelinho tipo musa da novela das oito. Quase sempre apresentam ótimas coxas e/ou bundinhas, peitinhos, etc. Chega a animar, se não falar demais. São encontradiças em todas as partes. Foi constatado que de uns anos pra cá a densidade de Mocréia por metro quadrado cresceu consideravelmente.
Wallami Carpano, na revista Civilização Paroara, classificou Elizangela, Angelina Muniz e Magda Cotrof (em ordem inversa) com os tipos mais bem acabados de Mocréia Real.
2 – VADIA ou VADA
É a Mocréia sexualmente mais ativa. Sofre do mal do Mal do Machado, ou seja, não pode ver pau em pé. Então, normalmente, sempre a fim pracaralho dimontão à beça, com aqueles esfuziantes coxões com umas manchinhas de pereba, aqueles peitaço espremidos naquelas blusas tamanho PP e tudo isso em total evidência o tempo todo. Adoram usar modelito “Mistruppa” e não dão a menor chance de defesa caso estejam a fim. Conta-se que, esporadicamente e sem compromisso, muitas vezes constituem um fodão, mas é bom não passar de uma ou duas vezes, nem aparece com a vada em situação social evidente por que, visto serem alcoólatras potenciais, e portarem a SÍNDROME DO VAGALUME (intermitente fogo na toba), as possibilidades de um vexame são bem grandes. Há, também, o perigo de se contrair certas doencinhas incomodas tipo herpes na peia, gonô, cavalo de crista e AIDS. É a mocra ideal para aqueles momentos em que você deixa a namoradinha em casa e cai na madrugada atrás daquilo que o Diabo (e 98% da população do planeta) gosta. Contudo não se esqueça da velha Jontex, não custa tão caro assim...(já uma reforma de jeba...). Segundo especialistas as vadas são de três tipos:
a) A PUTA: dá pra todo mundo, inclusive você.
b) A FILHA DA PUTA: da pra todo mundo, menos para você.
c) A CHATA: não dá pra ninguém, só para você (um caso em um milhão. Tas fudido veio!).
Revista Casseta Popular
"Quando é verdadeira, quando nasce da necessidade de dizer, a voz humana não encontra quem a detenha. Se lhe negam a boca, ela fala pelas mãos, ou pelos olhos, ou pelos poros, ou por onde for. Porque todos, todos, temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais."
Eduardo Galeano, no Livro dos Abraços, L&PM pocket.