Disse o profeta:
Não importa nada do que eu possa dizer se estou preso na certeza de que meus adversários são muito mais poderosos que eu. E exerceram seu poder fazendo-me ter vergonha de ser quem eu sou e me arrancaram o prazer de caminhar entre as pessoas e desarmaram todas as minhas defesas (que afinal residiam somente na esperança de viver num mundo melhor). Porque estiquei minhas asas e parti rumo ao sol e mais uma vez, cera derretida, sinto o sabor acre do solo. Sofro da doença dos sonhadores. Tenho necessidades primárias de liberdade. E mais uma vez averiguo que não possuo par neste mundo. Que na minha ânsia de negar as necessidades mundanas fui tornado pária. Que devo mais uma vez, cabisbaixo, retomar a faina do impossível.
Que escrever, criar, ainda proporciona um sopro dessa paixão, mas que mesmo assim podem e serão usadas contra o autor na primeira oportunidade em que se tornar inconveniente ao meio, aos pseudo-amigos e à sempre óbvia família.
Explicar? Impossível. O gosto dessas verdades que desfilaram nuas sob meus olhos extasiados, carregarei para o vazio. E nem tem nada de tão extraordinárias. Seria um prazer debulhá-las aqui. Mas parece gesto vão e minha mesquinhez não permite gestos grandiosos. Nada diria que já não foi dito. Teria apenas a impressão iluminada de tê-las sentido eu. Ficaria mais tarde com o cansaço interior tão típico ao exercício da poesia. Certeza de nada. Nem dever cumprido, nem descumprido. Prazer de ter dado uma caminhada. Ou ter ouvido certo canto melodioso de pássaro estrangeiro.
Mas que nada. Resta-me o borbulhar de angústias em dia de feriado. Enterrado no desejo de desaparecer e saber-me irremediavelmente atrelado ao custo inalcançável de viver. Venham musas refrescar-me com o vento de suas asas. Anda comigo poeta, lembra-me que tudo vale à pena, se a alma não é pequena. Dai-me tua passagem pelo planeta como prova de que existiram oásis de lirismo nessa pútrida sociedade de hipócritas escrotos. Senão deixa-me o nó na garganta. E o grito engolido pela milionésima vez:
- Vão todos para as putas que vos pariram!
seu céu
Disse o profeta:
Dois que se destacaram esta semana.
Vítimas dos juízes da normalidade de plantão.
Um por ser gay e estar comemorando o dia das bruxas, acabou sendo assaltado e infelizmente, morto.Chocou-me mais uma vez a dupla violência a que estamos expostos nessa ilha das ditas magias.Uma, da morte pela mão que segurava o revólver.Outra pelo preconceito que julgava diminuido, sabe como é, Floripa anda crescidinha...Mas nesse caso não. Meus tios, primos, mãe e pai, todos dizendo que o falecido vivia num talsubmundo, que procurou e achou...Eu que pouco entendo do mundo, fiquei imaginando o rapaz em questão:fazendo suas festas, vivendo seus amores, realizando seu trabalho...Não consegui alcançar a maldade.
O outro destaque fica pra um amigo que vive em prisão domiciliar faz anos.Este recebeu o veredito de louco. Estava caminhando pela rua, quando se viudesacompanhado, uma raridade, e não contou tempo, ficou peladão pra celebrar a liberdade. Acabou sendo conduzido pela polícia até sua casa. Quase foi parar no hospício. Fica meu abraço comemorativo.
E a lembrança do poetinha, Vinícius de Moraes, no famoso Samba da Bênção: Feito essa gente que anda por aí/Brincando com a vida/Cuidado companheiro!/A vida é pra valer. É poetinha a vida é pra valer e enquanto não for disseminada a tolerância,o respeito e a alegria, fica valendo o recado: cuidado companheiro!
Eu que me achei feliz um dia desses, que acordei achando que finalmente tinha chegado o meu momento, que a lucidez havia decretado o fim do preconceito, tive que tomar minha dose de cicuta e pisar no freio rumo a felicidade, mais uma vez.
E que venham os juízes para decretar minha ousadia ensandecida, mais uma vez,por estas palavrinhas amorais...
Dois que se destacaram esta semana.
Vítimas dos juízes da normalidade de plantão.
Um por ser gay e estar comemorando o dia das bruxas, acabou sendo assaltado e infelizmente, morto.Chocou-me mais uma vez a dupla violência a que estamos expostos nessa ilha das ditas magias.Uma, da morte pela mão que segurava o revólver.Outra pelo preconceito que julgava diminuido, sabe como é, Floripa anda crescidinha...Mas nesse caso não. Meus tios, primos, mãe e pai, todos dizendo que o falecido vivia num talsubmundo, que procurou e achou...Eu que pouco entendo do mundo, fiquei imaginando o rapaz em questão:fazendo suas festas, vivendo seus amores, realizando seu trabalho...Não consegui alcançar a maldade.
O outro destaque fica pra um amigo que vive em prisão domiciliar faz anos.Este recebeu o veredito de louco. Estava caminhando pela rua, quando se viudesacompanhado, uma raridade, e não contou tempo, ficou peladão pra celebrar a liberdade. Acabou sendo conduzido pela polícia até sua casa. Quase foi parar no hospício. Fica meu abraço comemorativo.
E a lembrança do poetinha, Vinícius de Moraes, no famoso Samba da Bênção: Feito essa gente que anda por aí/Brincando com a vida/Cuidado companheiro!/A vida é pra valer. É poetinha a vida é pra valer e enquanto não for disseminada a tolerância,o respeito e a alegria, fica valendo o recado: cuidado companheiro!
Eu que me achei feliz um dia desses, que acordei achando que finalmente tinha chegado o meu momento, que a lucidez havia decretado o fim do preconceito, tive que tomar minha dose de cicuta e pisar no freio rumo a felicidade, mais uma vez.
E que venham os juízes para decretar minha ousadia ensandecida, mais uma vez,por estas palavrinhas amorais...
Disse o profeta:
No outro domingo conheci dois casais de franceses aqui na ilha. Lamentei profundamente que nenhum deles arranhasse o português ou espanhol. Eu, por outro lado, tenho aquele francês de rótulo de vinho. Mais umas sacanagens e umas palavras colhidas em filmes, ainda raros, nos cinemas da cidade. Estabelecemos então, para tristeza de todos, o inglês como forma de comunicação.
Disse-me o gaulês de olhos azuis, que vinha da terra de Asterix (Bretagne), enquanto eu namorava a mesa, cheia de deliciosas tortas típicas francesas, doces e salgadas.
Falamos de geografia, biografias, música, trabalho e política, quando sem mais delongas, apresentou-se o convidado de honra da festa. Um tal vinho francês. Foi nesta hora que comecei a gemer. Meio sem querer, meio de piada, mas absolutamente sincero. Que maravilha.
E, claro, diante da situação, de barriga cheia de quitutes franceses, já meio alto do bordeaux que rolava, comecei a filosofar. Meu novo amigo, digamos que se chamasse Jean-Paul, era especialista em fazer forros de casas. Rufér, como dizia. Já da quarta geração de ruférs. Tinha as mãos e a agitação física de quem trabalha pesado. Mas tinha acesso a: boa comida, boa casa, bons vinhos (not every day, disse o risonho amigo).
Ensinou-me que para saber se um vinho era bom, bastava ver se o rótulo estava mofado e rasgado pela ação do tempo. Daí para formularmos maneiras de falsificar, foi o tempo de mais uns goles.
E eu, o sonhador bobalhão, pensava no trabalhador brasileiro. Nem boa cachaça, quanto mais bom vinho.
Uma garrafa daquelas, devia custar meio salário-mínimo brasileiro.
Daí que os caras do PT saiam roubando adoidado, quando sentem o gostinho do poder, da grana, tem uma distância.
Tem?
Nilo Neto
Disse o profeta:
Não é que eu não esteja feliz com meu novo amor. Que é uma pessoa tão doce e inteligente e dedicada. Mas vira e mexe me volta o gosto da maldita. E por não ter absolutamente nenhuma notícia dela, fico fantasiando palavras, encontros, sinto saudade dos dias cheios que ela, afinal, me deu.
E estou lendo esse livro do Nabokov, e não, não é o Lolita. Chama-se Pnin. E eis a passagem que me fez lembrar dela...
"Foi levá-la ao ônibus e voltou a pé através do parque. Bastaria ficar com ela, guardá-la - como ela era - com sua crueldade, a sua vulgaridade, os seus deslumbrantes olhos azuis, a sua miserável poesia, os seus pés grossos, e a sua alma impura, seca, sórdida e infantil. E de repente ele pensou: "Se as pessoas se reencotram no céu (não acredito nisso, mas vamos supor) como poderei impedir de rastejar por mim, sobre mim, a alma murcha, indefesa e trôpega dela? Mas esta é a terra, eu estou curiosamente vivo e há alguma coisa em mim e na vida..."
Por enquanto é isso. E como será que está esse tal de mundo que fica fora de mim?
Não é que eu não esteja feliz com meu novo amor. Que é uma pessoa tão doce e inteligente e dedicada. Mas vira e mexe me volta o gosto da maldita. E por não ter absolutamente nenhuma notícia dela, fico fantasiando palavras, encontros, sinto saudade dos dias cheios que ela, afinal, me deu.
E estou lendo esse livro do Nabokov, e não, não é o Lolita. Chama-se Pnin. E eis a passagem que me fez lembrar dela...
"Foi levá-la ao ônibus e voltou a pé através do parque. Bastaria ficar com ela, guardá-la - como ela era - com sua crueldade, a sua vulgaridade, os seus deslumbrantes olhos azuis, a sua miserável poesia, os seus pés grossos, e a sua alma impura, seca, sórdida e infantil. E de repente ele pensou: "Se as pessoas se reencotram no céu (não acredito nisso, mas vamos supor) como poderei impedir de rastejar por mim, sobre mim, a alma murcha, indefesa e trôpega dela? Mas esta é a terra, eu estou curiosamente vivo e há alguma coisa em mim e na vida..."
Por enquanto é isso. E como será que está esse tal de mundo que fica fora de mim?
zip zap plufft uarkkkk tim tim after forever
Disse o profeta:
Vou revelar, meus comparsas de sangue e escuridão, estou adentrando no estranho mundo das after do cenário undertudo de floripa. É isso mesmo, sou um velho vampiro aceito no mundinho obscuro desses novos mortos-vivos da ilha de todos os terrores.
Quero escarificar meu coração imortal e entediado.
Quero sanguinho novo entre meus dentes amarelados.
Quero beijar uma bonequinha de luxo, com piercing na língua e maquiagem borrada.
Quero lamber peles brancas de menininhas, tatuadas com dragões e elfos multicoloridos.
Quero esquecer minha dor num copo de coquinho com gelo.
Quero ouvir roquenrou dos anos oitenta na companhia de meus camaradas. Parceiros no ofício da sobrevivência na noite eterna dos seres sem alma.
Quero trocar minha velha capa negra empoeirada por uma camiseta com desenhos estranhos e nomes conhecidos.
Vou em busca da minha própria lenda, tentando esquecer qualquer resquício de luz que habitava meu passado de homem comum.
Mais uma dose, é claro que eu tô afim...
A noite nunca tem fim.
Porque que a gente é assim?
Vou revelar, meus comparsas de sangue e escuridão, estou adentrando no estranho mundo das after do cenário undertudo de floripa. É isso mesmo, sou um velho vampiro aceito no mundinho obscuro desses novos mortos-vivos da ilha de todos os terrores.
Quero escarificar meu coração imortal e entediado.
Quero sanguinho novo entre meus dentes amarelados.
Quero beijar uma bonequinha de luxo, com piercing na língua e maquiagem borrada.
Quero lamber peles brancas de menininhas, tatuadas com dragões e elfos multicoloridos.
Quero esquecer minha dor num copo de coquinho com gelo.
Quero ouvir roquenrou dos anos oitenta na companhia de meus camaradas. Parceiros no ofício da sobrevivência na noite eterna dos seres sem alma.
Quero trocar minha velha capa negra empoeirada por uma camiseta com desenhos estranhos e nomes conhecidos.
Vou em busca da minha própria lenda, tentando esquecer qualquer resquício de luz que habitava meu passado de homem comum.
Mais uma dose, é claro que eu tô afim...
A noite nunca tem fim.
Porque que a gente é assim?
Hunter
Disse o profeta:
Proferi tiros a esmo no meu rifle de caçar búfalos. Gastei toda a minha munição querendo te derrubar na pradaria. Tudo em vão. Fui o caçador mais perfeito nos meu sonhos imaturos. Perdi a fé na minha própria capacidade de realizar o que achava saber fazer de melhor. Agora restamos eu, uma fúria sem nome e a tua lembrança, na minha sala de troféus imaginários. Vai por aí, maldita. Segue desalojando corações solitários de sua solidão. Quem sabe um dia a gente se encontra por aí. E ainda me reste uma última bala na agulha pra acabar de vez com essa dor. Ou não.
Proferi tiros a esmo no meu rifle de caçar búfalos. Gastei toda a minha munição querendo te derrubar na pradaria. Tudo em vão. Fui o caçador mais perfeito nos meu sonhos imaturos. Perdi a fé na minha própria capacidade de realizar o que achava saber fazer de melhor. Agora restamos eu, uma fúria sem nome e a tua lembrança, na minha sala de troféus imaginários. Vai por aí, maldita. Segue desalojando corações solitários de sua solidão. Quem sabe um dia a gente se encontra por aí. E ainda me reste uma última bala na agulha pra acabar de vez com essa dor. Ou não.
Disse o profeta:
Ei maldita. Tu me fizeste sentir que eu sou o maior perdedor do mundo. Que eu sou mais um bebum,frustrado, sem talento, futuro ou dinheiro.
E eu sou mesmo quase tudo isso. Só que eu tenho um jeitinho especial com as palavras, moro numa das cidades mais bonitas e desejadas do Brasil e não preciso me sujeitar a um patrão filhodaputa para ganhar uma merreca e comer merda durante o mês, com uns filhos pentelhos e uma patroa reaça e histérica.
Então, maldita, estou por aqui esperando o ovo ficar no ponto, pra descascar e comer. Vou mamar minha cervejinha e escrever mais uma crônica que não vai ser publicada em nenhum jornal ou revista. Não vou ser famoso, nem vou ficar triste quando me esquecerem de vez. Não vou ter nenhum brilho especial, nem vou deixar saudades.
Ei maldita. Tu me fizeste sentir que eu sou o maior perdedor do mundo. Que eu sou mais um bebum,frustrado, sem talento, futuro ou dinheiro.
E eu sou mesmo quase tudo isso. Só que eu tenho um jeitinho especial com as palavras, moro numa das cidades mais bonitas e desejadas do Brasil e não preciso me sujeitar a um patrão filhodaputa para ganhar uma merreca e comer merda durante o mês, com uns filhos pentelhos e uma patroa reaça e histérica.
Então, maldita, estou por aqui esperando o ovo ficar no ponto, pra descascar e comer. Vou mamar minha cervejinha e escrever mais uma crônica que não vai ser publicada em nenhum jornal ou revista. Não vou ser famoso, nem vou ficar triste quando me esquecerem de vez. Não vou ter nenhum brilho especial, nem vou deixar saudades.
patinando
Disse o profeta:
Oi amada
Eu tive uma noite miserável ontem. Fiquei em casa, sozinho e bebendo a minha cerveja. Até aí, tudo certo. Digo, sábado é a noite mais óbvia da semana e normalmente só tem gente óbvia na rua. Como eu sou um vagabundo consumado, gosto mesmo de sair nos dias em que as pessoas sérias e honestas estão em suas casas, dormindo cedo pra produzir mais e melhor e alimentar o sistema, nosso lindo sistema que a todos proteje e enche de vida. Mas como eu tenho aí essa renda e faço uns bicos no computador e fico escrevendo alguma poesia barata e esperando que a minha morte seja rápida e venha daqui a algum tempo, fico em casa sábado a noite.
Mas como eu ia te falando, eu estava aqui em casa, tomando a minha 8ª ou 9ª lata, quando desandei num berreiro. Nem sei bem porque começou. Sei que não parava mais. E me deu até um pouco de medo. Daí fiquei pensando em ligar pra alguém pra falar e ouvir alguma besteira e desviar um pouco a atenção dessa dor, mas só tenho um amigo, por sinal lá da época de s. leo, que eu posso mesmo ligar a qualquer hora de qualquer dia. Mas o lazarento não estava ou não atendeu. Daí eu tomei mais umas e acabei dormindo. Será que essa dor não vai acabar nunca, é? Vai ver, como tu dizes, que o amor é um tipo de doença, de obsessão, sei lá. Uma saudade sem cura, essa. Caramba... Hoje de certo que pode acontecer de novo. Já acordei com vontade de chorar. Fico aqui quieto, assistindo qualquer merda na TV e esperando que esse urubu, essa vontade de desparecer, desapareça. Desaparece?
Te cuida. Que bom que tu estás aí. Gosto de ti.
Nilo Neto
Oi amada
Eu tive uma noite miserável ontem. Fiquei em casa, sozinho e bebendo a minha cerveja. Até aí, tudo certo. Digo, sábado é a noite mais óbvia da semana e normalmente só tem gente óbvia na rua. Como eu sou um vagabundo consumado, gosto mesmo de sair nos dias em que as pessoas sérias e honestas estão em suas casas, dormindo cedo pra produzir mais e melhor e alimentar o sistema, nosso lindo sistema que a todos proteje e enche de vida. Mas como eu tenho aí essa renda e faço uns bicos no computador e fico escrevendo alguma poesia barata e esperando que a minha morte seja rápida e venha daqui a algum tempo, fico em casa sábado a noite.
Mas como eu ia te falando, eu estava aqui em casa, tomando a minha 8ª ou 9ª lata, quando desandei num berreiro. Nem sei bem porque começou. Sei que não parava mais. E me deu até um pouco de medo. Daí fiquei pensando em ligar pra alguém pra falar e ouvir alguma besteira e desviar um pouco a atenção dessa dor, mas só tenho um amigo, por sinal lá da época de s. leo, que eu posso mesmo ligar a qualquer hora de qualquer dia. Mas o lazarento não estava ou não atendeu. Daí eu tomei mais umas e acabei dormindo. Será que essa dor não vai acabar nunca, é? Vai ver, como tu dizes, que o amor é um tipo de doença, de obsessão, sei lá. Uma saudade sem cura, essa. Caramba... Hoje de certo que pode acontecer de novo. Já acordei com vontade de chorar. Fico aqui quieto, assistindo qualquer merda na TV e esperando que esse urubu, essa vontade de desparecer, desapareça. Desaparece?
Te cuida. Que bom que tu estás aí. Gosto de ti.
Nilo Neto
Ressaca
Disse o profeta:
A casa onde eu morava nessa época tinha algumas qualidades. Uma das mais bacanas era o quarto, pintado de um azul muito escuro. Esse azul muito escuro fornecia um abrigo para muitas ressacas, algumas suficientemente brutais para matar um homem, sobretudo numa época em que eu engolia pílulas que as pessoas me davam sem me preocupar em perguntar o que eram. Algumas noites eu sabia que, se adormecesse, morreria. Ficava dando voltas sozinho a noite toda, do quarto ao banheiro e do banheiro à cozinha, passando pela sala da frente. Abria e fechava a geladeira, repetidas vezes. Abria e fechava as torneiras. Dava descarga na privada. Puxava as orelhas. Inspirava e expirava. Depois, quando o sol saía, eu sabia que estava salvo. Aí dormia com as paredes azuis, azuis, azuis, curando-me.
Outra característica da casa eram as batidas na porta, de mulheres desagradáveis, às três ou quatro horas da manhã. Certamente não eram damas de grande encanto, mas tendo uma mente meio idiota, eu achava que de algum modo elas me traziam aventura. A verdade mesmo é que a maioria delas não tinha outro lugar para ir. E gostavam do fato de que havia bebida e de que eu não fazia muita força para ir pra cama com elas.
Evidentemente, depois que conheci Sarah, essa parte do meu estilo de vida, mudou bastante.
Charles Bukowski
A casa onde eu morava nessa época tinha algumas qualidades. Uma das mais bacanas era o quarto, pintado de um azul muito escuro. Esse azul muito escuro fornecia um abrigo para muitas ressacas, algumas suficientemente brutais para matar um homem, sobretudo numa época em que eu engolia pílulas que as pessoas me davam sem me preocupar em perguntar o que eram. Algumas noites eu sabia que, se adormecesse, morreria. Ficava dando voltas sozinho a noite toda, do quarto ao banheiro e do banheiro à cozinha, passando pela sala da frente. Abria e fechava a geladeira, repetidas vezes. Abria e fechava as torneiras. Dava descarga na privada. Puxava as orelhas. Inspirava e expirava. Depois, quando o sol saía, eu sabia que estava salvo. Aí dormia com as paredes azuis, azuis, azuis, curando-me.
Outra característica da casa eram as batidas na porta, de mulheres desagradáveis, às três ou quatro horas da manhã. Certamente não eram damas de grande encanto, mas tendo uma mente meio idiota, eu achava que de algum modo elas me traziam aventura. A verdade mesmo é que a maioria delas não tinha outro lugar para ir. E gostavam do fato de que havia bebida e de que eu não fazia muita força para ir pra cama com elas.
Evidentemente, depois que conheci Sarah, essa parte do meu estilo de vida, mudou bastante.
Charles Bukowski
Dark Side of The Moon
Disse o profeta:
Seres da noite são sombras. São translúcidos e vagam pelas ruas. Alimentam-se do vento, da vida que resta nos recém-chegados. Dos que estão sendo iniciados. Seres da noite são ocos. Não tem reflexo no espelho porque já não possuem alma. Seu desejo foi lentamente sendo engolido pelas mentiras da noite. Promessas de felicidade jamais realizada. Sonhos que desapareceram com a chegada do sol. Nenhum vigor lhes resta. Apenas mais uma noite, mais um falso brilho.
Essa noite resolvi ficar em casa. E meus fantasmas todos se reuniram para celebrar a morte da minha última quimera. E rondam minha cama enquanto vejo o branco do teto. Uns sorriem, outros ficam somente me olhando sem nenhuma expressão. Somos velhos conhecidos. Não sinto falta deles, se desaparecem. Não sinto nada. Sou o homem de gelo. Estou preso ao eterno momento do desencontro. Sei que nada mais me espera. E não me importo. Amanhã a noite talvez eu saia. Amanhã talvez seja o dia da minha morte. Mas eu às vezes penso que não vou mais ter o benefício do descanso final. De perder minha memória, meus tropeços e fantasmas. De me desintegrar no nada.
Quando eu ainda era um ser do dia, tinha a impressão de que me viam. Que se importavam com minhas opiniões e desejavam minha ajuda para ser mais um dente da engrenagem. Lentamente fui sendo empurrado para fora. Eu falava nas horas erradas. Eu dizia verdades que dóem. Eu deixava os outros saberem o que eu via e ouvia. Eu lia os corações e acreditava no crescimento de cada um e do grupo. Mas isso deixava todos com raiva e medo. E aí me empurravam pra fora de suas vidas. No fim, desisti de participar. Me deram de presente um rótulo. Louco. E automaticamente, tudo o que eu fazia ou dizia, não tinha mais nenhuma ressonância. Foi assim que me transformei num ser da noite. Assim eu morri estando vivo.
Seres da noite são sombras. São translúcidos e vagam pelas ruas. Alimentam-se do vento, da vida que resta nos recém-chegados. Dos que estão sendo iniciados. Seres da noite são ocos. Não tem reflexo no espelho porque já não possuem alma. Seu desejo foi lentamente sendo engolido pelas mentiras da noite. Promessas de felicidade jamais realizada. Sonhos que desapareceram com a chegada do sol. Nenhum vigor lhes resta. Apenas mais uma noite, mais um falso brilho.
Essa noite resolvi ficar em casa. E meus fantasmas todos se reuniram para celebrar a morte da minha última quimera. E rondam minha cama enquanto vejo o branco do teto. Uns sorriem, outros ficam somente me olhando sem nenhuma expressão. Somos velhos conhecidos. Não sinto falta deles, se desaparecem. Não sinto nada. Sou o homem de gelo. Estou preso ao eterno momento do desencontro. Sei que nada mais me espera. E não me importo. Amanhã a noite talvez eu saia. Amanhã talvez seja o dia da minha morte. Mas eu às vezes penso que não vou mais ter o benefício do descanso final. De perder minha memória, meus tropeços e fantasmas. De me desintegrar no nada.
Quando eu ainda era um ser do dia, tinha a impressão de que me viam. Que se importavam com minhas opiniões e desejavam minha ajuda para ser mais um dente da engrenagem. Lentamente fui sendo empurrado para fora. Eu falava nas horas erradas. Eu dizia verdades que dóem. Eu deixava os outros saberem o que eu via e ouvia. Eu lia os corações e acreditava no crescimento de cada um e do grupo. Mas isso deixava todos com raiva e medo. E aí me empurravam pra fora de suas vidas. No fim, desisti de participar. Me deram de presente um rótulo. Louco. E automaticamente, tudo o que eu fazia ou dizia, não tinha mais nenhuma ressonância. Foi assim que me transformei num ser da noite. Assim eu morri estando vivo.
rage
Disse o profeta:
Todos temos o direito de sermos e termos na medida exata de nossas capacidades. Menos quando se fala no amor. Neste universo são outras as leis e a medida do que seremos cobrados pela justiça divina é a do nosso egoísmo. Isso é definitivo. Eu vou pro céu, maldita!
A minha mão toca a mão de deus e do diabo, quando te digo: vem. Porque em mim moram o ódio profundo e o amor sem fim.
Dividido e reagrupado pela dor e pela luz do sol, toda força que emanar do meu coração de mil terremotos. Cuida que tua alma esteja guardada nessa hora. Minha fúria é autêntica e eficaz. Seu destino é certo e não há tempo para arrependimentos.
Tudo o mais é superfície.
Todo dia será o último.
E a dor, eternamente cobrada pelos anjos do senhor.
Todos temos o direito de sermos e termos na medida exata de nossas capacidades. Menos quando se fala no amor. Neste universo são outras as leis e a medida do que seremos cobrados pela justiça divina é a do nosso egoísmo. Isso é definitivo. Eu vou pro céu, maldita!
A minha mão toca a mão de deus e do diabo, quando te digo: vem. Porque em mim moram o ódio profundo e o amor sem fim.
Dividido e reagrupado pela dor e pela luz do sol, toda força que emanar do meu coração de mil terremotos. Cuida que tua alma esteja guardada nessa hora. Minha fúria é autêntica e eficaz. Seu destino é certo e não há tempo para arrependimentos.
Tudo o mais é superfície.
Todo dia será o último.
E a dor, eternamente cobrada pelos anjos do senhor.
SINS PUB
Disse o profeta:
Não existe tristeza cristalizada mais cheia de estilo, que ter vivido na cinzenta Londres do começo dos anos oitenta. Sofrer, neste tempo, mais do que uma contingência da vida, transformou-se num sólido e poderoso movimento musical e estilo de vida: a era dark.
E o que isso significa em nosso luminoso trópico e na toda encantada ilha da magia?
Acontece que o sofrimento é universal e atemporal. A música é boa e temos por aqui, de vez em quando, nossos chuvosos dias de vento sul. Daí entra em ação um fã ardoroso do Rogério Skylab, agente secreto n° 1 do movimento anti-treta, Dj Calvin, comandando sua pick-up mágica dos encontros impossíveis. Apesar dos rumores, reza a lenda que essa figura possui, entre seus vários atributos, a incrível capacidade de ser bem quisto entre quase todas as raivosas tribos da cidade. Ele se confessa roquista e toca bateria (em pé) na banda Os Cafonas. E tem as calvinetes, mas isso é assunto pra outra conversa.
Tudo isso e muito mais está no Sins Pub, genial espaço no centro antigo da cidade, localizado numa casa colonial reformada, para realizar uma ponte bem-vinda entre a Londres dark dos anos 80 e a Floripa undertudo do século 21.
Prá facilitar, a casa funciona todas as noites, de terça a domingo e fica na rua Tiradentes, 143, Florianópolis.
Não existe tristeza cristalizada mais cheia de estilo, que ter vivido na cinzenta Londres do começo dos anos oitenta. Sofrer, neste tempo, mais do que uma contingência da vida, transformou-se num sólido e poderoso movimento musical e estilo de vida: a era dark.
E o que isso significa em nosso luminoso trópico e na toda encantada ilha da magia?
Acontece que o sofrimento é universal e atemporal. A música é boa e temos por aqui, de vez em quando, nossos chuvosos dias de vento sul. Daí entra em ação um fã ardoroso do Rogério Skylab, agente secreto n° 1 do movimento anti-treta, Dj Calvin, comandando sua pick-up mágica dos encontros impossíveis. Apesar dos rumores, reza a lenda que essa figura possui, entre seus vários atributos, a incrível capacidade de ser bem quisto entre quase todas as raivosas tribos da cidade. Ele se confessa roquista e toca bateria (em pé) na banda Os Cafonas. E tem as calvinetes, mas isso é assunto pra outra conversa.
Tudo isso e muito mais está no Sins Pub, genial espaço no centro antigo da cidade, localizado numa casa colonial reformada, para realizar uma ponte bem-vinda entre a Londres dark dos anos 80 e a Floripa undertudo do século 21.
Prá facilitar, a casa funciona todas as noites, de terça a domingo e fica na rua Tiradentes, 143, Florianópolis.
Carta ao Canto dos Araçás
Disse o profeta:
Amigo, eu ando cansado, dessa minha nova ruga, dessa mesma velha fuga.
Da falta de coragem pra fazer uma tatuagem . O medo do permanente.
De não me reconhecer mais, nessa cidade que já foi minha.
Será que na rodoviária, ainda rola aquela famosa canja de galinha?
De chorar na sessão da tarde, bem naquela parte,
em que o mocinho beija a mocinha, a menina encontra a cachorrinha.
O inevitável final feliz.
Amigo, eu ando cansado de ficar pensando nessa bandida,
que eu amava e que me abandonou.
Amigo, mesmo assim, notícias suas sempre vão bem.
Como anda a bateira, os projetos, a família?
Tua voz na máquina me fez rir e acreditar
que ainda tem lugar no mundo pra mim e minha mania de choramingar
por coisas que pra ti são mais simples.
Porque tu já tens os calos nos lugares certos.
Abraço
Nilo Neto
Amigo, eu ando cansado, dessa minha nova ruga, dessa mesma velha fuga.
Da falta de coragem pra fazer uma tatuagem . O medo do permanente.
De não me reconhecer mais, nessa cidade que já foi minha.
Será que na rodoviária, ainda rola aquela famosa canja de galinha?
De chorar na sessão da tarde, bem naquela parte,
em que o mocinho beija a mocinha, a menina encontra a cachorrinha.
O inevitável final feliz.
Amigo, eu ando cansado de ficar pensando nessa bandida,
que eu amava e que me abandonou.
Amigo, mesmo assim, notícias suas sempre vão bem.
Como anda a bateira, os projetos, a família?
Tua voz na máquina me fez rir e acreditar
que ainda tem lugar no mundo pra mim e minha mania de choramingar
por coisas que pra ti são mais simples.
Porque tu já tens os calos nos lugares certos.
Abraço
Nilo Neto
Disse o profeta:
agora vou dizer um coisa bem séria pra vocês. eu estou de saco cheio de ficar sofrendo e choramingando pelos cantos. agora ela resolveu cortar contato de vez. e vocês sabem que eu tenho essa coisa com a comunicação. então estou muito puto e de vez em quando ainda tomo uns tragos e choro um pouco. é eu c-h-o-r-o por causa da maldita. hoje foi assim. acordei e estava passando um documentário qualquer na tv sobre uns índios ou uns bichos estranhos, sei lá, sei que deu essa choradeira. e eu fiquei meio surpreso, dizendo baixinho, que porra é essa, que choro é esse. daí passou. é desse jeito, vai e vem. mas o que interessa? tem mais umas outras histórias rolando mas nada que dê liga. que me faça apertar o passo pra chegar mais cedo em casa. fico só zanzando por aí, mamando umas cervejas e falando com umas pessoas, e também sorrindo de vez em quando. quer dizer, a vida normal, louca, estranha, sem pé nem cabeça, de sempre. la vida loca. uma bagunça. uma boa confusão. intensidade e frio na barriga. mas tento manter uma certa aparência de tranquilidade. é bom para os dentes. o sistema está aí pronto pra chutar bem nas bolas de quem faz barulho demais. então é melhor ficar na boa. beber em casa. dar uns bons chupões num pescoço cheiroso de vez em quando. sem pensar muito. sem fazer marola. não faz marola, nilo neto. e tem as palavrinhas pra brincar também. tem a poesia e essa coluna maluca aqui que ninguém lê, mas que dá prazer em escrever.
bom, vou ficando por aqui. tomara que passe logo esse calor. até mais.
agora vou dizer um coisa bem séria pra vocês. eu estou de saco cheio de ficar sofrendo e choramingando pelos cantos. agora ela resolveu cortar contato de vez. e vocês sabem que eu tenho essa coisa com a comunicação. então estou muito puto e de vez em quando ainda tomo uns tragos e choro um pouco. é eu c-h-o-r-o por causa da maldita. hoje foi assim. acordei e estava passando um documentário qualquer na tv sobre uns índios ou uns bichos estranhos, sei lá, sei que deu essa choradeira. e eu fiquei meio surpreso, dizendo baixinho, que porra é essa, que choro é esse. daí passou. é desse jeito, vai e vem. mas o que interessa? tem mais umas outras histórias rolando mas nada que dê liga. que me faça apertar o passo pra chegar mais cedo em casa. fico só zanzando por aí, mamando umas cervejas e falando com umas pessoas, e também sorrindo de vez em quando. quer dizer, a vida normal, louca, estranha, sem pé nem cabeça, de sempre. la vida loca. uma bagunça. uma boa confusão. intensidade e frio na barriga. mas tento manter uma certa aparência de tranquilidade. é bom para os dentes. o sistema está aí pronto pra chutar bem nas bolas de quem faz barulho demais. então é melhor ficar na boa. beber em casa. dar uns bons chupões num pescoço cheiroso de vez em quando. sem pensar muito. sem fazer marola. não faz marola, nilo neto. e tem as palavrinhas pra brincar também. tem a poesia e essa coluna maluca aqui que ninguém lê, mas que dá prazer em escrever.
bom, vou ficando por aqui. tomara que passe logo esse calor. até mais.
Disse o profeta:
Eu nem deveria estar aqui escrevendo. É até meio perigoso. E se me cai umas lágrimas no teclado, quer dizer, estou sujeito até a levar choque. Mas o oficio do poeta é a palavra e a dor, sua grande motivação. Até aí nada de novo. Nada de novo também escrever sobre o amor. Mas este amor, senhoras e senhores, com licença... Quanto mais penso em tudo o que vivemos, mais me dói, menos entendo e daí choro. E olha que nem sou muito disso. Mas a coisa explode aqui dentro e quando vejo, estou soluçando por aí. Noite dessas até no boteco. Que vergonha que eu passei. Nem lembro bem porque, sei que de repente tava lá, no maior chororô com a galera me olhando espantadíssima. Tava até rolando um roque panque e aquele empurra empurra. Bem divertido até. Daí de repente, não mais que de repente, do riso fez-se o pranto...
Eu nem deveria estar aqui escrevendo. É até meio perigoso. E se me cai umas lágrimas no teclado, quer dizer, estou sujeito até a levar choque. Mas o oficio do poeta é a palavra e a dor, sua grande motivação. Até aí nada de novo. Nada de novo também escrever sobre o amor. Mas este amor, senhoras e senhores, com licença... Quanto mais penso em tudo o que vivemos, mais me dói, menos entendo e daí choro. E olha que nem sou muito disso. Mas a coisa explode aqui dentro e quando vejo, estou soluçando por aí. Noite dessas até no boteco. Que vergonha que eu passei. Nem lembro bem porque, sei que de repente tava lá, no maior chororô com a galera me olhando espantadíssima. Tava até rolando um roque panque e aquele empurra empurra. Bem divertido até. Daí de repente, não mais que de repente, do riso fez-se o pranto...
Disse o profeta:
Não deviam deixar os poetas tentar viver esse amor da vida real.
Poetas são: complicados, sensíveis, imaturos e intensos. Não têm força pra lidar com o cotidiano.
Amor de poeta é como borboleta beijando flor.
Deveriam, isso sim, criar uma espécie de colônia de férias de emoções, para que eles pudessem viver e criar poesia, sem criar confusão, nem colocar a si mesmos em situações de grande risco.
Por ciúme e raiva, muitos poetas morrem, matam, viram bebuns ou andarilhos.
Eu mesmo agora ando pensando num jeito de matar esse amor tão dolorido, dentro de mim.
Mas nem isso sei fazer direito.
Dizem que devo me embriagar e buscar o perfume de outras mulheres.
Eu só consigo chorar e deixar recados estranhos, na secretária eletrônica dela.
Não deviam deixar os poetas tentar viver esse amor da vida real.
Poetas são: complicados, sensíveis, imaturos e intensos. Não têm força pra lidar com o cotidiano.
Amor de poeta é como borboleta beijando flor.
Deveriam, isso sim, criar uma espécie de colônia de férias de emoções, para que eles pudessem viver e criar poesia, sem criar confusão, nem colocar a si mesmos em situações de grande risco.
Por ciúme e raiva, muitos poetas morrem, matam, viram bebuns ou andarilhos.
Eu mesmo agora ando pensando num jeito de matar esse amor tão dolorido, dentro de mim.
Mas nem isso sei fazer direito.
Dizem que devo me embriagar e buscar o perfume de outras mulheres.
Eu só consigo chorar e deixar recados estranhos, na secretária eletrônica dela.
mais velho safado
Disse o profeta:
Pra quem gosta, um pouco mais de Charles Bukowski
Dia frouxo. Entrei na piscina de hidromassagem com um boa-vida. O sol estava brilhando e a água borbulhava e fazia redemoinhos, quente. Relaxei. Porque não? Dê um tempo. Tente se sentir melhor. O mundo inteiro é um saco de merda se rasgando. Não posso salvá-lo. Mas recebi muitas cartas de pessoas que disseram que meus livros salvaram suas vidas. Mas não escrevi para isso, escrevi para salvar a minha própria vida. Sempre estive por fora, nunca me adaptei. Descobri isso nos pátios das escolas. E outra coisa que aprendi foi que eu aprendia muito devagar. Os outros caras sabiam tudo; eu não sabia merda nenhuma. Tudo estava imerso em uma luz branca e estonteante. Eu era um idiota. No entanto, mesmo quando eu era um idiota , sabia que não era idiota completo. Eu tinha algum cantinho mim que eu estava protegendo, havia alguma coisa lá. Não importa. Aqui estava eu na piscina e minha vida estava terminando. Não me importava, já tinha visto o circo. Ainda assim, sempre haverá mais coisas para escrever até que me atirem na escuridão ou seja o que for. Isso é que é legal sobre as palavras, permanece indo em frente, buscando coisas, formando frases, se divertindo. Eu estava cheio de palavras e elas ainda saíam em boa forma. Eu tinha sorte. Na piscina. Garganta ruim, dor de cabeça, eu tinha sorte. Velho escritor na piscina, meditando. Legal, legal. Mas o inferno está sempre lá, esperando para se abrir.
Do livro: O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio
==============
me sentei e bebi mais um pouco, pensando no filho da puta que controlava a parte traseira e tinha feito aquilo comigo. não vale a pena ser educado. aí me lembrei da subvenção. será que um homem e uma mulher, não casados, recebem também o benefício? claro que não. deixariam os dois morrendo de fome. e amor. pensando bem, não passa de uma espécie de palavrão. mas tinha qualquer coisa a ver com o que existe entre Linda e eu - amor. era por isso que a gente sofria privações lado a lado, e bebia e morava junto. o que significava o casamento? apenas uma FODA santificada e toda FODA santificada, sempre, em última análise, acaba, infalivelmente, ficando CHATA, se transformando em OBRIGAÇÃO. mas isso é mesmo o que o mundo quer: algum pobre filho da puta, encurralado e infeliz, com uma obrigação a cumprir. ora, que merda, era melhor eu me mudar para a parte mais pobre da cidade e Linda passar a morar com Big Eddie. Big Eddie podia ser idiota, mas pelo menos lhe compraria roupas e lhe poria alguns bifes no estômago; bem mais do que eu estava em condições e fazer.
Bukowski Pernas de Elefante, o fracasso social.
======== ================
ah, que droga. então sentei e abri a garrafa de uísque. enchi dois copos comuns até a borda, tirei os sapatos, as meias, as calças, a camisa e peguei um dos cigarros dela. fiquei sentado só de cueca. sempre faço assim, logo de saída. gosto de me sentir à vontade. se a fulana achar ruim, foda-se. porta da rua, serventia da casa. mas elas nunca vão embora. deve ser por causa do meu jeito. tem umas que dizem que podia ser rei. outras falam coisas bem diferentes. fodam-se.
Charles Bukowski - Crônica de um amor louco
Pra quem gosta, um pouco mais de Charles Bukowski
Dia frouxo. Entrei na piscina de hidromassagem com um boa-vida. O sol estava brilhando e a água borbulhava e fazia redemoinhos, quente. Relaxei. Porque não? Dê um tempo. Tente se sentir melhor. O mundo inteiro é um saco de merda se rasgando. Não posso salvá-lo. Mas recebi muitas cartas de pessoas que disseram que meus livros salvaram suas vidas. Mas não escrevi para isso, escrevi para salvar a minha própria vida. Sempre estive por fora, nunca me adaptei. Descobri isso nos pátios das escolas. E outra coisa que aprendi foi que eu aprendia muito devagar. Os outros caras sabiam tudo; eu não sabia merda nenhuma. Tudo estava imerso em uma luz branca e estonteante. Eu era um idiota. No entanto, mesmo quando eu era um idiota , sabia que não era idiota completo. Eu tinha algum cantinho mim que eu estava protegendo, havia alguma coisa lá. Não importa. Aqui estava eu na piscina e minha vida estava terminando. Não me importava, já tinha visto o circo. Ainda assim, sempre haverá mais coisas para escrever até que me atirem na escuridão ou seja o que for. Isso é que é legal sobre as palavras, permanece indo em frente, buscando coisas, formando frases, se divertindo. Eu estava cheio de palavras e elas ainda saíam em boa forma. Eu tinha sorte. Na piscina. Garganta ruim, dor de cabeça, eu tinha sorte. Velho escritor na piscina, meditando. Legal, legal. Mas o inferno está sempre lá, esperando para se abrir.
Do livro: O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio
==============
me sentei e bebi mais um pouco, pensando no filho da puta que controlava a parte traseira e tinha feito aquilo comigo. não vale a pena ser educado. aí me lembrei da subvenção. será que um homem e uma mulher, não casados, recebem também o benefício? claro que não. deixariam os dois morrendo de fome. e amor. pensando bem, não passa de uma espécie de palavrão. mas tinha qualquer coisa a ver com o que existe entre Linda e eu - amor. era por isso que a gente sofria privações lado a lado, e bebia e morava junto. o que significava o casamento? apenas uma FODA santificada e toda FODA santificada, sempre, em última análise, acaba, infalivelmente, ficando CHATA, se transformando em OBRIGAÇÃO. mas isso é mesmo o que o mundo quer: algum pobre filho da puta, encurralado e infeliz, com uma obrigação a cumprir. ora, que merda, era melhor eu me mudar para a parte mais pobre da cidade e Linda passar a morar com Big Eddie. Big Eddie podia ser idiota, mas pelo menos lhe compraria roupas e lhe poria alguns bifes no estômago; bem mais do que eu estava em condições e fazer.
Bukowski Pernas de Elefante, o fracasso social.
======== ================
ah, que droga. então sentei e abri a garrafa de uísque. enchi dois copos comuns até a borda, tirei os sapatos, as meias, as calças, a camisa e peguei um dos cigarros dela. fiquei sentado só de cueca. sempre faço assim, logo de saída. gosto de me sentir à vontade. se a fulana achar ruim, foda-se. porta da rua, serventia da casa. mas elas nunca vão embora. deve ser por causa do meu jeito. tem umas que dizem que podia ser rei. outras falam coisas bem diferentes. fodam-se.
Charles Bukowski - Crônica de um amor louco
Disse o profeta:
Primeiras horas do primeiro dia, longe da minha esperança preferida.
A torrente de lágrimas cessou. Parece que está se represando em algum lugar do meu peito. Tenho medo da inundação.
Ela foi a mulher que me fez sonhar com uma outra vida. Ela me fez aceitar minha humanidade e ser mais compreensivo com a dos outros. Ela me fez, pela primeira vez, querer ter um filho. Ela se foi. Preferiu pousar suas asas em outro jardim. Gostaria muito de voltar a sonhar, mas agora só tenho o silêncio como companhia.
Bukowski disse, de uma mulher:
- ela passa por mim e deixa um rastro deslumbrante como uma avalanche estraçalhada pelo sol.
Acho que é isso.
Deus tenha misericórdia dos nossos corações. Espero que ela esteja bem. Sinto falta de suas palavras, sua inspiração, suas confusões e sorrisos. Sinto falta daquele jeitinho que ela me chamava de macacão. Como se fosse uma menininha curiosa. O tempo, esse único aliado, há de aliviar nossas dores. Bom mesmo seria dormir uns dois anos.
Primeiras horas do primeiro dia, longe da minha esperança preferida.
A torrente de lágrimas cessou. Parece que está se represando em algum lugar do meu peito. Tenho medo da inundação.
Ela foi a mulher que me fez sonhar com uma outra vida. Ela me fez aceitar minha humanidade e ser mais compreensivo com a dos outros. Ela me fez, pela primeira vez, querer ter um filho. Ela se foi. Preferiu pousar suas asas em outro jardim. Gostaria muito de voltar a sonhar, mas agora só tenho o silêncio como companhia.
Bukowski disse, de uma mulher:
- ela passa por mim e deixa um rastro deslumbrante como uma avalanche estraçalhada pelo sol.
Acho que é isso.
Deus tenha misericórdia dos nossos corações. Espero que ela esteja bem. Sinto falta de suas palavras, sua inspiração, suas confusões e sorrisos. Sinto falta daquele jeitinho que ela me chamava de macacão. Como se fosse uma menininha curiosa. O tempo, esse único aliado, há de aliviar nossas dores. Bom mesmo seria dormir uns dois anos.
o visgo da lesma leprosa
Disse o profeta:
querido diário
tomei um taquaraço no meio dos cornos. tomei mais um nas pernas. caí. olhei pro céu, não tinha céu. fiquei ali jogado no chão muitos dias. de repente aprendi a chorar. aliviou. mas só um pouco. o peso no peito parece que vai me vencer. mas continuo vivo. e viver parece o pior de tudo.
cuidado crianças. pessoas frágeis, afastem-se do amor. nunca caiam na besteira de achar que podem participar desse grande movimento impunemente. você pode passar um ano, uma pessoa, uma paixão. mas um dia o taquaraço vem. e se é bem dado, como foi comigo. neguinho se desorienta. perde o rumo. vira andarilho, bebum, mata, morre.
ainda estou caído. ainda me dói respirar. nem sei quando vou aprender a ver o céu de novo. mas quem passar pelo meu caminho daqui pra frente, vai conhecer outra pessoa.
por enquanto estou concentrado em sobreviver.
caralho, como dói.
querido diário
tomei um taquaraço no meio dos cornos. tomei mais um nas pernas. caí. olhei pro céu, não tinha céu. fiquei ali jogado no chão muitos dias. de repente aprendi a chorar. aliviou. mas só um pouco. o peso no peito parece que vai me vencer. mas continuo vivo. e viver parece o pior de tudo.
cuidado crianças. pessoas frágeis, afastem-se do amor. nunca caiam na besteira de achar que podem participar desse grande movimento impunemente. você pode passar um ano, uma pessoa, uma paixão. mas um dia o taquaraço vem. e se é bem dado, como foi comigo. neguinho se desorienta. perde o rumo. vira andarilho, bebum, mata, morre.
ainda estou caído. ainda me dói respirar. nem sei quando vou aprender a ver o céu de novo. mas quem passar pelo meu caminho daqui pra frente, vai conhecer outra pessoa.
por enquanto estou concentrado em sobreviver.
caralho, como dói.
Assinar:
Postagens (Atom)