Carta ao Canto dos Araçás

Disse o profeta:

Amigo, eu ando cansado, dessa minha nova ruga, dessa mesma velha fuga.
Da falta de coragem pra fazer uma tatuagem . O medo do permanente.
De não me reconhecer mais, nessa cidade que já foi minha.
Será que na rodoviária, ainda rola aquela famosa canja de galinha?
De chorar na sessão da tarde, bem naquela parte,
em que o mocinho beija a mocinha, a menina encontra a cachorrinha.
O inevitável final feliz.
Amigo, eu ando cansado de ficar pensando nessa bandida,
que eu amava e que me abandonou.
Amigo, mesmo assim, notícias suas sempre vão bem.
Como anda a bateira, os projetos, a família?
Tua voz na máquina me fez rir e acreditar
que ainda tem lugar no mundo pra mim e minha mania de choramingar
por coisas que pra ti são mais simples.
Porque tu já tens os calos nos lugares certos.

Abraço

Nilo Neto

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