Disse o profeta:
Seres da noite são sombras. São translúcidos e vagam pelas ruas. Alimentam-se do vento, da vida que resta nos recém-chegados. Dos que estão sendo iniciados. Seres da noite são ocos. Não tem reflexo no espelho porque já não possuem alma. Seu desejo foi lentamente sendo engolido pelas mentiras da noite. Promessas de felicidade jamais realizada. Sonhos que desapareceram com a chegada do sol. Nenhum vigor lhes resta. Apenas mais uma noite, mais um falso brilho.
Essa noite resolvi ficar em casa. E meus fantasmas todos se reuniram para celebrar a morte da minha última quimera. E rondam minha cama enquanto vejo o branco do teto. Uns sorriem, outros ficam somente me olhando sem nenhuma expressão. Somos velhos conhecidos. Não sinto falta deles, se desaparecem. Não sinto nada. Sou o homem de gelo. Estou preso ao eterno momento do desencontro. Sei que nada mais me espera. E não me importo. Amanhã a noite talvez eu saia. Amanhã talvez seja o dia da minha morte. Mas eu às vezes penso que não vou mais ter o benefício do descanso final. De perder minha memória, meus tropeços e fantasmas. De me desintegrar no nada.
Quando eu ainda era um ser do dia, tinha a impressão de que me viam. Que se importavam com minhas opiniões e desejavam minha ajuda para ser mais um dente da engrenagem. Lentamente fui sendo empurrado para fora. Eu falava nas horas erradas. Eu dizia verdades que dóem. Eu deixava os outros saberem o que eu via e ouvia. Eu lia os corações e acreditava no crescimento de cada um e do grupo. Mas isso deixava todos com raiva e medo. E aí me empurravam pra fora de suas vidas. No fim, desisti de participar. Me deram de presente um rótulo. Louco. E automaticamente, tudo o que eu fazia ou dizia, não tinha mais nenhuma ressonância. Foi assim que me transformei num ser da noite. Assim eu morri estando vivo.
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