Disse o profeta:
Vou revelar, meus comparsas de sangue e escuridão, estou adentrando no estranho mundo das after do cenário undertudo de floripa. É isso mesmo, sou um velho vampiro aceito no mundinho obscuro desses novos mortos-vivos da ilha de todos os terrores.
Quero escarificar meu coração imortal e entediado.
Quero sanguinho novo entre meus dentes amarelados.
Quero beijar uma bonequinha de luxo, com piercing na língua e maquiagem borrada.
Quero lamber peles brancas de menininhas, tatuadas com dragões e elfos multicoloridos.
Quero esquecer minha dor num copo de coquinho com gelo.
Quero ouvir roquenrou dos anos oitenta na companhia de meus camaradas. Parceiros no ofício da sobrevivência na noite eterna dos seres sem alma.
Quero trocar minha velha capa negra empoeirada por uma camiseta com desenhos estranhos e nomes conhecidos.
Vou em busca da minha própria lenda, tentando esquecer qualquer resquício de luz que habitava meu passado de homem comum.
Mais uma dose, é claro que eu tô afim...
A noite nunca tem fim.
Porque que a gente é assim?
Hunter
Disse o profeta:
Proferi tiros a esmo no meu rifle de caçar búfalos. Gastei toda a minha munição querendo te derrubar na pradaria. Tudo em vão. Fui o caçador mais perfeito nos meu sonhos imaturos. Perdi a fé na minha própria capacidade de realizar o que achava saber fazer de melhor. Agora restamos eu, uma fúria sem nome e a tua lembrança, na minha sala de troféus imaginários. Vai por aí, maldita. Segue desalojando corações solitários de sua solidão. Quem sabe um dia a gente se encontra por aí. E ainda me reste uma última bala na agulha pra acabar de vez com essa dor. Ou não.
Proferi tiros a esmo no meu rifle de caçar búfalos. Gastei toda a minha munição querendo te derrubar na pradaria. Tudo em vão. Fui o caçador mais perfeito nos meu sonhos imaturos. Perdi a fé na minha própria capacidade de realizar o que achava saber fazer de melhor. Agora restamos eu, uma fúria sem nome e a tua lembrança, na minha sala de troféus imaginários. Vai por aí, maldita. Segue desalojando corações solitários de sua solidão. Quem sabe um dia a gente se encontra por aí. E ainda me reste uma última bala na agulha pra acabar de vez com essa dor. Ou não.
Disse o profeta:
Ei maldita. Tu me fizeste sentir que eu sou o maior perdedor do mundo. Que eu sou mais um bebum,frustrado, sem talento, futuro ou dinheiro.
E eu sou mesmo quase tudo isso. Só que eu tenho um jeitinho especial com as palavras, moro numa das cidades mais bonitas e desejadas do Brasil e não preciso me sujeitar a um patrão filhodaputa para ganhar uma merreca e comer merda durante o mês, com uns filhos pentelhos e uma patroa reaça e histérica.
Então, maldita, estou por aqui esperando o ovo ficar no ponto, pra descascar e comer. Vou mamar minha cervejinha e escrever mais uma crônica que não vai ser publicada em nenhum jornal ou revista. Não vou ser famoso, nem vou ficar triste quando me esquecerem de vez. Não vou ter nenhum brilho especial, nem vou deixar saudades.
Ei maldita. Tu me fizeste sentir que eu sou o maior perdedor do mundo. Que eu sou mais um bebum,frustrado, sem talento, futuro ou dinheiro.
E eu sou mesmo quase tudo isso. Só que eu tenho um jeitinho especial com as palavras, moro numa das cidades mais bonitas e desejadas do Brasil e não preciso me sujeitar a um patrão filhodaputa para ganhar uma merreca e comer merda durante o mês, com uns filhos pentelhos e uma patroa reaça e histérica.
Então, maldita, estou por aqui esperando o ovo ficar no ponto, pra descascar e comer. Vou mamar minha cervejinha e escrever mais uma crônica que não vai ser publicada em nenhum jornal ou revista. Não vou ser famoso, nem vou ficar triste quando me esquecerem de vez. Não vou ter nenhum brilho especial, nem vou deixar saudades.
patinando
Disse o profeta:
Oi amada
Eu tive uma noite miserável ontem. Fiquei em casa, sozinho e bebendo a minha cerveja. Até aí, tudo certo. Digo, sábado é a noite mais óbvia da semana e normalmente só tem gente óbvia na rua. Como eu sou um vagabundo consumado, gosto mesmo de sair nos dias em que as pessoas sérias e honestas estão em suas casas, dormindo cedo pra produzir mais e melhor e alimentar o sistema, nosso lindo sistema que a todos proteje e enche de vida. Mas como eu tenho aí essa renda e faço uns bicos no computador e fico escrevendo alguma poesia barata e esperando que a minha morte seja rápida e venha daqui a algum tempo, fico em casa sábado a noite.
Mas como eu ia te falando, eu estava aqui em casa, tomando a minha 8ª ou 9ª lata, quando desandei num berreiro. Nem sei bem porque começou. Sei que não parava mais. E me deu até um pouco de medo. Daí fiquei pensando em ligar pra alguém pra falar e ouvir alguma besteira e desviar um pouco a atenção dessa dor, mas só tenho um amigo, por sinal lá da época de s. leo, que eu posso mesmo ligar a qualquer hora de qualquer dia. Mas o lazarento não estava ou não atendeu. Daí eu tomei mais umas e acabei dormindo. Será que essa dor não vai acabar nunca, é? Vai ver, como tu dizes, que o amor é um tipo de doença, de obsessão, sei lá. Uma saudade sem cura, essa. Caramba... Hoje de certo que pode acontecer de novo. Já acordei com vontade de chorar. Fico aqui quieto, assistindo qualquer merda na TV e esperando que esse urubu, essa vontade de desparecer, desapareça. Desaparece?
Te cuida. Que bom que tu estás aí. Gosto de ti.
Nilo Neto
Oi amada
Eu tive uma noite miserável ontem. Fiquei em casa, sozinho e bebendo a minha cerveja. Até aí, tudo certo. Digo, sábado é a noite mais óbvia da semana e normalmente só tem gente óbvia na rua. Como eu sou um vagabundo consumado, gosto mesmo de sair nos dias em que as pessoas sérias e honestas estão em suas casas, dormindo cedo pra produzir mais e melhor e alimentar o sistema, nosso lindo sistema que a todos proteje e enche de vida. Mas como eu tenho aí essa renda e faço uns bicos no computador e fico escrevendo alguma poesia barata e esperando que a minha morte seja rápida e venha daqui a algum tempo, fico em casa sábado a noite.
Mas como eu ia te falando, eu estava aqui em casa, tomando a minha 8ª ou 9ª lata, quando desandei num berreiro. Nem sei bem porque começou. Sei que não parava mais. E me deu até um pouco de medo. Daí fiquei pensando em ligar pra alguém pra falar e ouvir alguma besteira e desviar um pouco a atenção dessa dor, mas só tenho um amigo, por sinal lá da época de s. leo, que eu posso mesmo ligar a qualquer hora de qualquer dia. Mas o lazarento não estava ou não atendeu. Daí eu tomei mais umas e acabei dormindo. Será que essa dor não vai acabar nunca, é? Vai ver, como tu dizes, que o amor é um tipo de doença, de obsessão, sei lá. Uma saudade sem cura, essa. Caramba... Hoje de certo que pode acontecer de novo. Já acordei com vontade de chorar. Fico aqui quieto, assistindo qualquer merda na TV e esperando que esse urubu, essa vontade de desparecer, desapareça. Desaparece?
Te cuida. Que bom que tu estás aí. Gosto de ti.
Nilo Neto
Ressaca
Disse o profeta:
A casa onde eu morava nessa época tinha algumas qualidades. Uma das mais bacanas era o quarto, pintado de um azul muito escuro. Esse azul muito escuro fornecia um abrigo para muitas ressacas, algumas suficientemente brutais para matar um homem, sobretudo numa época em que eu engolia pílulas que as pessoas me davam sem me preocupar em perguntar o que eram. Algumas noites eu sabia que, se adormecesse, morreria. Ficava dando voltas sozinho a noite toda, do quarto ao banheiro e do banheiro à cozinha, passando pela sala da frente. Abria e fechava a geladeira, repetidas vezes. Abria e fechava as torneiras. Dava descarga na privada. Puxava as orelhas. Inspirava e expirava. Depois, quando o sol saía, eu sabia que estava salvo. Aí dormia com as paredes azuis, azuis, azuis, curando-me.
Outra característica da casa eram as batidas na porta, de mulheres desagradáveis, às três ou quatro horas da manhã. Certamente não eram damas de grande encanto, mas tendo uma mente meio idiota, eu achava que de algum modo elas me traziam aventura. A verdade mesmo é que a maioria delas não tinha outro lugar para ir. E gostavam do fato de que havia bebida e de que eu não fazia muita força para ir pra cama com elas.
Evidentemente, depois que conheci Sarah, essa parte do meu estilo de vida, mudou bastante.
Charles Bukowski
A casa onde eu morava nessa época tinha algumas qualidades. Uma das mais bacanas era o quarto, pintado de um azul muito escuro. Esse azul muito escuro fornecia um abrigo para muitas ressacas, algumas suficientemente brutais para matar um homem, sobretudo numa época em que eu engolia pílulas que as pessoas me davam sem me preocupar em perguntar o que eram. Algumas noites eu sabia que, se adormecesse, morreria. Ficava dando voltas sozinho a noite toda, do quarto ao banheiro e do banheiro à cozinha, passando pela sala da frente. Abria e fechava a geladeira, repetidas vezes. Abria e fechava as torneiras. Dava descarga na privada. Puxava as orelhas. Inspirava e expirava. Depois, quando o sol saía, eu sabia que estava salvo. Aí dormia com as paredes azuis, azuis, azuis, curando-me.
Outra característica da casa eram as batidas na porta, de mulheres desagradáveis, às três ou quatro horas da manhã. Certamente não eram damas de grande encanto, mas tendo uma mente meio idiota, eu achava que de algum modo elas me traziam aventura. A verdade mesmo é que a maioria delas não tinha outro lugar para ir. E gostavam do fato de que havia bebida e de que eu não fazia muita força para ir pra cama com elas.
Evidentemente, depois que conheci Sarah, essa parte do meu estilo de vida, mudou bastante.
Charles Bukowski
Dark Side of The Moon
Disse o profeta:
Seres da noite são sombras. São translúcidos e vagam pelas ruas. Alimentam-se do vento, da vida que resta nos recém-chegados. Dos que estão sendo iniciados. Seres da noite são ocos. Não tem reflexo no espelho porque já não possuem alma. Seu desejo foi lentamente sendo engolido pelas mentiras da noite. Promessas de felicidade jamais realizada. Sonhos que desapareceram com a chegada do sol. Nenhum vigor lhes resta. Apenas mais uma noite, mais um falso brilho.
Essa noite resolvi ficar em casa. E meus fantasmas todos se reuniram para celebrar a morte da minha última quimera. E rondam minha cama enquanto vejo o branco do teto. Uns sorriem, outros ficam somente me olhando sem nenhuma expressão. Somos velhos conhecidos. Não sinto falta deles, se desaparecem. Não sinto nada. Sou o homem de gelo. Estou preso ao eterno momento do desencontro. Sei que nada mais me espera. E não me importo. Amanhã a noite talvez eu saia. Amanhã talvez seja o dia da minha morte. Mas eu às vezes penso que não vou mais ter o benefício do descanso final. De perder minha memória, meus tropeços e fantasmas. De me desintegrar no nada.
Quando eu ainda era um ser do dia, tinha a impressão de que me viam. Que se importavam com minhas opiniões e desejavam minha ajuda para ser mais um dente da engrenagem. Lentamente fui sendo empurrado para fora. Eu falava nas horas erradas. Eu dizia verdades que dóem. Eu deixava os outros saberem o que eu via e ouvia. Eu lia os corações e acreditava no crescimento de cada um e do grupo. Mas isso deixava todos com raiva e medo. E aí me empurravam pra fora de suas vidas. No fim, desisti de participar. Me deram de presente um rótulo. Louco. E automaticamente, tudo o que eu fazia ou dizia, não tinha mais nenhuma ressonância. Foi assim que me transformei num ser da noite. Assim eu morri estando vivo.
Seres da noite são sombras. São translúcidos e vagam pelas ruas. Alimentam-se do vento, da vida que resta nos recém-chegados. Dos que estão sendo iniciados. Seres da noite são ocos. Não tem reflexo no espelho porque já não possuem alma. Seu desejo foi lentamente sendo engolido pelas mentiras da noite. Promessas de felicidade jamais realizada. Sonhos que desapareceram com a chegada do sol. Nenhum vigor lhes resta. Apenas mais uma noite, mais um falso brilho.
Essa noite resolvi ficar em casa. E meus fantasmas todos se reuniram para celebrar a morte da minha última quimera. E rondam minha cama enquanto vejo o branco do teto. Uns sorriem, outros ficam somente me olhando sem nenhuma expressão. Somos velhos conhecidos. Não sinto falta deles, se desaparecem. Não sinto nada. Sou o homem de gelo. Estou preso ao eterno momento do desencontro. Sei que nada mais me espera. E não me importo. Amanhã a noite talvez eu saia. Amanhã talvez seja o dia da minha morte. Mas eu às vezes penso que não vou mais ter o benefício do descanso final. De perder minha memória, meus tropeços e fantasmas. De me desintegrar no nada.
Quando eu ainda era um ser do dia, tinha a impressão de que me viam. Que se importavam com minhas opiniões e desejavam minha ajuda para ser mais um dente da engrenagem. Lentamente fui sendo empurrado para fora. Eu falava nas horas erradas. Eu dizia verdades que dóem. Eu deixava os outros saberem o que eu via e ouvia. Eu lia os corações e acreditava no crescimento de cada um e do grupo. Mas isso deixava todos com raiva e medo. E aí me empurravam pra fora de suas vidas. No fim, desisti de participar. Me deram de presente um rótulo. Louco. E automaticamente, tudo o que eu fazia ou dizia, não tinha mais nenhuma ressonância. Foi assim que me transformei num ser da noite. Assim eu morri estando vivo.
rage
Disse o profeta:
Todos temos o direito de sermos e termos na medida exata de nossas capacidades. Menos quando se fala no amor. Neste universo são outras as leis e a medida do que seremos cobrados pela justiça divina é a do nosso egoísmo. Isso é definitivo. Eu vou pro céu, maldita!
A minha mão toca a mão de deus e do diabo, quando te digo: vem. Porque em mim moram o ódio profundo e o amor sem fim.
Dividido e reagrupado pela dor e pela luz do sol, toda força que emanar do meu coração de mil terremotos. Cuida que tua alma esteja guardada nessa hora. Minha fúria é autêntica e eficaz. Seu destino é certo e não há tempo para arrependimentos.
Tudo o mais é superfície.
Todo dia será o último.
E a dor, eternamente cobrada pelos anjos do senhor.
Todos temos o direito de sermos e termos na medida exata de nossas capacidades. Menos quando se fala no amor. Neste universo são outras as leis e a medida do que seremos cobrados pela justiça divina é a do nosso egoísmo. Isso é definitivo. Eu vou pro céu, maldita!
A minha mão toca a mão de deus e do diabo, quando te digo: vem. Porque em mim moram o ódio profundo e o amor sem fim.
Dividido e reagrupado pela dor e pela luz do sol, toda força que emanar do meu coração de mil terremotos. Cuida que tua alma esteja guardada nessa hora. Minha fúria é autêntica e eficaz. Seu destino é certo e não há tempo para arrependimentos.
Tudo o mais é superfície.
Todo dia será o último.
E a dor, eternamente cobrada pelos anjos do senhor.
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