Disse o profeta:
Trata-se do seguinte, meu senhor. Eu estou fodido mesmo. No meu tempo, o senhor entende, apesar dos 35 anos de idade, estou sofrendo de uma doença chamada melancolia precoce, mas como ia dizendo, no meu tempo fui educado pra achar vergonhoso pedir. Pedir: esmola, ajudinha, troco e o que fosse. Em último caso, pedir comida, se a coisa estivesse muito feia, podia. E todo mundo dava.
Agora o lema é outro: estou pedindo, não estou roubando. Vejam só. Uma espécie de redução de dano, na violência implítica da frase. Na verdade o malaco te diz, é: melhor me dar que senão eu vou acabar levando sua carteira. E assim vai.
Hoje fui comer minha maldita coxinha e minha meio quente coca-cola, num boteco por aqui e em menos de 10 minutos, levei duas bordejadas. Uma com direito a mulher doente de mentira e outra de menino acostumadinho a pedir desde novinho, querendo um rango na faixa. Acho que, por causa do feriado tinha menos otário na rua e sobrou pro gordo burro aqui.
Aí vem aquela culpa disfarçada de consciência política, falando que o país está uma merda, que não tem emprego, que falta escola e oportunidade. Acho que os dez milhões de empregos que o Lula prometeu, são só pros pedintes, mendigos e flanelinhas poderem diminuir a concorrência nas ruas.
Vai enchendo saco mesmo. Vai dando vontade de sair correndo.
Fui dizer umas coisas dessas pro dono do boteco e ele me conta da sua infância. Que de menino já vendia amendoim, que aos 14 anos foi expulso de casa pela madrasta...
E eu vi o cara com o comércio dele, com um filho ajudando, bem vestido, bem alimentado.
Daí lembrei do lance do tráfico e da prostituição. Pensei no salário mínimo. Contei minhas moedas de 10 no bolso que eu catei pela casa. Legal, vai dar. Paguei a conta e vim aqui desabafar.
Falta despertar desse pesadelo. Será que lá no outro hemisfério também é assim?
Quem sabe vou ser pedinte por lá. É isso, vou jogar no outro time. Cuidar de mercedes na Alemanha.
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