eu tenho essa amiga, que reconhece em mim um certo valor criativo e porque não, literário. mas quando se trata de escrever, bom mesmo é esticar as pernas e dar asas à imaginação. não, ela já queria me ditar alguns cânones pra poder ficar mais "vendável". diz que eu sou agressivo, que pareço com o jabor. ora, imenso elogio implicado na crítica, uma vez que eu adoro o cara. então eu venho aqui pro meu blogzinho que ninguém lê e choro minhas pitangas em paz.
haverá quem queira publicar essas minhas palavras? sei lá. não deveria ser essa alma voltada pros consumidores, o moto perpétuo desse pseudo escritor, mas meus meandros nessa passagem pelo mundo. aí sim.
como aquela criança que brinca com seus carrinhos do outro lado da rua. não deve ter mais de três anos. uma coisa é falar pensando nele, outra seria escrever tentando ser ele. ele que nem sabe direito dizer o nome das coisas, como chamará seus carrinhos? se é que chama de alguma coisa. aí passa a vizinha e diz pra ele que o objeto em suas mãos é amarelo, como também sua blusinha. e assim vai impondo esse conjunto de normas que chamamos de língua. e o piá, sem saber, vai sendo aculturado.
então, voltando ao tema, se um dia eu me pusesse a escrever uma coluna em algum blog famoso ou jornal, que tema escolheria, que maneira usaria pra referir o assunto: docemente, raivosamente ou displicentemente? quem saberá?
segue a barca rumo ao desconhecido. e um abraço pro gaiteiro.
foi justamente na entrada que ele percebeu que seus pés já não tocavam o chão. e a sensação do vazio, sempre presente, passou a ser uma bela companhia. não que ele esperasse demais daquele sonho bom, mas a viagem estava abrindo precedentes perigosos na sua mente, já tão alterada pelos anos contínuos de ingestão de drogas farmacêuticas, além das vendidas pelas ruas da cidade.
agora que seu equipamento de pouso estava sem qualquer uso evidente, ele desativou o último sinal de perigo que piscava incessante no equipamento de mão e de mãos dadas com o infinito presente, mergulhou sua falta de fé no último sorriso da musa.
a nave partiu desvairada. o horizonte depunha a favor de suas ambições de paz: era um por do sol, era uma manhã na floresta, era um sorriso do gato de alice.
- obrigado pelo despertar seguro em dia tão banal, - ele ainda conseguiu escrever sua última mensagem de texto, com as mãos trêmulas de prazer. e foi lentamente engolido pelo inconsciente coletivo que passava.
Ela me perguntou em que lugar o amor e a liberdade se
encontram e sugeriu: no silêncio, na impossibilidade de
fechamento, na fronteira, no limite? Afinal, dá pra voar
com o coração transbordando ou voar requer o vazio?
Agora eu fiquei pensando nesse campo das
impossibilidades, numa certa cultura do fracasso,
lembrada aqui pelo f. pessoa:
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
É nesse momento em que estou pela milionésima vez em plena encruzilhada, vindo de caminho cheio de sonhos não realizados, amores não vividos, que paro pra tentar pelo menos aliviar a carga de estar sempre à beira desse dia de felicidade.
Então chega outro amigo e diz: a felicidade é o caminho, não o destino.
Temos aí uma saída, mas decerto fica sempre um gosto amargo na última mordida.