Disse o profeta:

Florianópolis. Praia da Armação. 1965.
A família de Nelson chega alegre para mais um sábado na beira do mar. Saíram da Costeira, apetrechos em mãos: toalhas, roupas e chapéus. Além da mãe e dos irmãos, vizinhas e namoradas. Todos ao ponto de ônibus. Tudo transcorre bem. Uma hora e meia depois, uma passada na vendola, já na praia. Cachaça e bolacha. Agora é ir na casa do Sapiroca, pescador local que oferece uma modesta estrutura: almoço (arroz, feijão, peixe frito, salada de tomate e alface) e um limoeiro do lado de casa, de onde saem os frutos pra fazer a caipirinha. Comida encomendada, bebidas a postos, todos ao mar.
Floripa era outra, o mundo era outro.
Seria mais um fim de semana com a família, que Nelson, aí com seus 20 e tantos anos, aproveitaria. Não fosse a presença de Kátia, bela morena, por quem ele arrastava uma asa fazia tempo.
E naquele sábado, ele tinha posto na cabeça que ia convencê-la a ficar mais a vontade. Passou o dia, veio o fim de tarde, só os dois na praia, quando ela finalmente concordou em tirar a parte de cima do maiô. Aquele por-do-sol lindo, naquela praia ainda pouco habitada, ficaram marcados pra sempre na retina e no coração do Nelson. Tanto que me contou, 40 anos depois, com um brilho no olhar.


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Aí é que mora o perigo. Eis a situação que se coloca. Justamente nisso, a capacidade de passar o clima. Escolhi escrever de um jeito direto, enxuto e ficou coisa demais pra trás. Precisava dizer como era difícil namorar naqueles dias. Havia muito mais pudor, limites impostos pela moral vigente. Mulher tinha que casar virgem e pura. Eu ainda peguei o finalzinho desse sistema. Hoje está tudo completamente diferente. Então dá pra imaginar a felicidade do Nelson, quando deu certo. A moça topou se mostrar pra ele. Outra coisa que eu queria falar era da cidade. Florianópolis, ainda uma pequena vila e dentro dela uma praia, ainda quase virgem. Habitada somente pelos pescadores e suas famílias. Sem turistas, especulação imobiliária, filas de carros, gente, gente, gente. Tanto que o casal pode curtir um fim de tarde isolado na praia. Hoje seria impossível em quase nenhuma praia da ilha, ainda mais a Armação, super disputada.
Então foi isso, tive que explicar a piada. Perdeu a graça. Coisa de quem não conta muito bem. Fazer o que? Vamos nos agüentando.

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