Disse o profeta:
Do livro "O Ninho da Serpente" do Pedro Juan Gutiérrez, Companhia das Letras
- Está comprovado cientificamente. As mulheres amadurecem antes de nós e são mais espertas. Além disso são muito pragmáticas e não amam. Se apaixonam um pouquinho. O único truque para controlar as mulheres é inventar um mistério, para elas ficarem ocupadas com a investigação. Quem é esse sujeito? De onde ele saiu? O que quer comigo? E por aí vai. Elas que se perguntem muitas coisas. A mulher é curiosa por natureza. E se além disso você come ela, pronto, está feito. Você é o ídolo preferido.
-E depois? Quando o tempo passa?
-Ah, você se fode. Ela já tem todas as respostas para o mistério e sabe que você é só mais um homenzinho. Comum e normal. Cheio de problemas e defeitos. O encanto se rompe.
(página 74)
A crise explodiu uns anos depois, quando eu já tinha vinte ou vinte um anos: depressivo, suicida, furioso, louco, lascivo-sádico, bêbado, agressivo. Tudo ao mesmo tempo. Autodestrutivo. Claro.. A serpente estava incubando desde a adolescência. A relação amor-e-ódio a respeito do resto da manada. Quando por fim entendi isso, comecei a me distanciar. Anti-social? Não creio. Associal. Quanto mais silêncio e solidão há ao meu redor, melhor me sinto.
(pág. 77)
Eu queria conjurar o demônio e escrever sobre tudo o que as pessoas escondem. Todos querem ser agradáveis, cultos e precavidamente sensatos. Isso não me interessava. De forma que a primeira providência era me afastar desse tipo de gente. O aprendizado seria solitário. Eu não tinha de perguntar nada. O escritor perfeito é um fantasma invisível. Ninguém pode vê-lo, mas ele escuta e vê tudo. O que há de mais íntimo e secreto em cada pessoa. Atravessa paredes e se enfia no cérebro e na alma dos outros. E depois escreve sem medo. Tem de arriscar. Quem não se atreve a chegar ao limite não tem direito de escrever. É preciso empurrar todos os personagens até o limite. É preciso aprender a fazê-lo. Mas ninguém pode ensinar como se faz isso.
(pág. 80-81)
Eu não queria trabalhar em construção. Queria fazer outra coisa. O quê? Não sabia. Tanto tempo no exército me deixou confuso. Não suportava nada que significasse autoridade. Entrei numa fase de rebelião paranóica. Às vezes, penso que estive à beira da esquizofrenia. Deixei o cabelo comprido e sujo. Não tomava banho, não fazia a barba, não cortava nem limpava as unhas. Também não usava cueca. Resolvi não trocar, nem lavar nunca o jeans. Quase não comia porque não me interessava me alimentar. Bebia e fumava muito. Não escovava os dentes e gostava do mau cheiro dos pés, de ter hálito forte, com cheiro de álcool, tabaco e cebola. Para foder com quem chegasse perto de mim. Queria ser uma jaritataca, um hiena asquerosa. Queria feder e que todos me dessem as costas. Queria falar só com o diabo. Que o diabo me aparecesse para eu discutir com ele e que gritasse para mim:
-Quem porra você pensa que é? O diabo sou eu, imbecil! Está tomando o meu lugar e vou desintregrar você.
(pág. 214)
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Um comentário:
Gostei do cubano do livro "O ninho da serpente".
Pô o cara fez uma odisséia e tanto pelas sendas da vida.
Valeu Nilo!
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