Disse o profeta:

Dia desses li em algum lugar que é preciso alimentar as ilusões, na vida. Que a velhice chega quando não se as tem mais.
Eu sempre alimentei a ilusão de escrever. E abraçado nela, venho suportando os altos e baixos da vida. Claro que também adoro ler. Mas ser um ávido leitor, não faz um bom escritor. É preciso mais: solidão, paciência pra encontrar aquela parte da gente que tenha algo a dizer.
Algo que seja tão imperioso que se torne uma via de acesso do autor à vida, sua e dos outros.
Registrar com algum estilo, não um amontoado de clichês que se sobrepõem. Afinal a arte está aí justamente pra isso, pra libertar o ser humano desta sucessão de martírios: físicos, emocionais, sociais e metafísicos. Nesse momento em que escrevo, possua a capacidade de dirigir minha imaginação para onde quiser. Claro que essa liberdade fica atrelada a uma série de pequenos nós, senão: o estilo em si, quais palavras escolher para dar vida ao pensamento, como não parecer pedante ou óbvio, como ser original, criativo e ao mesmo tempo simples; imaginar quem possa ler e através disso deixar o texto ser atraente, não chocar demais nem ser moralista, considerando que esse material, pelo simples ato de ser publicado, carrega alguns elementos de posteridade, pelos quais passo a ser julgado no futuro (sem exagero de imaginar-me um gênio da raça) e sabendo da extrema pulverização que veículos como a internet proporcionam, é possível imaginar que algumas pessoas possam ler estas palavras. O que levarão delas para suas vidas? Esse colocar-me no lugar do leitor é um limitante da liberdade criativa. Não deixa de ser também um deles, a vaidade do autor, que pretende alguma verdade e beleza em sua obra. Em sua busca por esses ideiais, pode eliminar elementos que, de outra forma, estariam ali presentes. Aí cabe um adendo. Eu acho que o papel da arte não é só a busca da harmonia, embora num primeiro momento seja isso que busquemos nela. Muitas vezes ela pode querer: chocar, alertar, conscientizar, através também do estranhamento, do medo e da feiúra.
Enfim, o sempre mesmo desafio de transcender e expressar. Que nos carrega vida afora na produção artística. Da renovação em termos de esperança, ou ilusão, como referíamos acima. Toda vez que me permito pegar o papel e a caneta, ou o computador e deitar ali as benditas, ou malditas, palavrinhas. Mais do que um privilégio ou uma alegria, este exercício é uma necessidade.
Neste sentido eu tenho orgulho de ser um escritor, mesmo que nunca publicado tradicionalmente. Ainda que não esteja claro o tipo de repercussão que este espaço na internet venha a representar. Eu, como milhares, milhões de outros, aqui vamos contruindo este espaço pra exprimir nossos desejos, nossa arte e alimentando nossas ilusões.

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