eu, ela e o ninho

Disse o profeta:

E porque já sou um animal quase completamente sifilizado, digo civilizado. Que ando à beira da gaiola, a olhar a comida e bebida, o ninho quente e feliz a me esperar lá dentro. É quando me dou conta de certas forças incríveis que constroem nosso mundinho.

Será que quando o macho humano se deu conta da relação direta entre o sexo e a maternidade, que a tal sociedade patriarcal se estabeleceu? Será que não se trata apenas de uma tentativa desesperada de obter ainda algum poder, mesmo que ilusório e desvairado, diante da inexpugnável força da mulher?

Para tanto, observemos o que pode um homem sozinho diante de uma mulher...

Quase nada, correto?

Mas de outra forma, se reunidos em: maçonarias, campos de futebol, fábricas e igrejas, não garantiriam para si um mínimo de liberdade e satisfação, longe dos olhares reprovadores e exigentes de mães, esposas, filhas, vizinhas, poderosas e inatingíveis?

O poder feminino se confirma para o mundo, uma vez que pai e mãe já o conhecem antes, no surgimento dos caracteres sexuais secundários, ou seja, pelos púbicos, seios e menarca.

Daí para diante, guardadas as proporções do meio em que vivem, tudo mais fica em segundo plano e a menina começa a entender, sem pensar, que possui o poder de vida e morte sobre os homens. Senão todos, pelo menos os que estiverem sob seu campo de influência. E esse poder aumentará na exata medida em que ela for mais sedutora, conforme os costumes de cada grupo, a ponto de poder lidar diretamente com os seus pares masculinos que gozarem de maior prestígio, poder e dinheiro.

Certo que aqui nem pretendo justificar os abusos do poder masculino, nestes milhares de anos em que se estabeleceu. Até porque basta olhar um pouco em volta para perceber que: as guerras, a fome, a miséria, a corrupção, o lucro, são todos filhos deste poder e de quem nele deposita sua confiança.

Ao contrário, resta em mim a curiosidade de pensar num mundo sem poder: de gênero (masculino e feminino), espécie (dinossauros, humanos ou baratas) e número (chineses ou norte-americanos).

Vamos daqui lentamente desconstruindo essas pequenas verdades, que parecem eternas de tão antigas e deixando no vento a pergunta, até que alguma semente nasça na terra nova, verde, onde antes estava o cimento e o tijolo.

Nilo Neto
Desterro
8 de junho de 2004

Nenhum comentário: