Paulo Freire falando de Chico Buarque (do livro Sem tesão não há solução)
Você vê por exemplo, um cara como o Chico Buarque. O que é que ele tem de diferente de nós? É que ele é um grande sortudo. Ele pegou cedo o maior potencial dele, que era fazer samba e poesia. Ele ia ser arquiteto. A família projetava nele todo o potencial de um arquiteto. Família de classe média alta, de intelectuais, o pai professor. E o Chico deve ter dito não: "o que eu quero é fazer samba e tomar cerveja". Isso tinha toda uma aparência de vagabundagem e de marginalidade, mas por trás disso estava tudo aquilo que aparece nas letras e músicas dos seus sambas, de sua vida e de seu lazer com cerveja e tudo. Essa atitude humana do Chico perante a sociedade, é basicamente uma atitude política. Mas uma política visceral, não inventada ou estudada. E ele teve de, no começo, aceitar ser um marginal até dentro da própria família, e só depois, tornando em obras e atitudes a sua originalidade livre é que foi conquistando o respeito que merece hoje. O Chico sempre foi e é até hoje uma pessoa profundamente incômoda ao sistema, porque é um vitorioso dentro do próprio sistema que ele combate. Mas ele venceu porque só usou o samba e a poesia, a coerência política e a cerveja, a agressividade e a beleza, o amor e a crítica, bem como as coisas populares brasileiras como arma pra defender sua originalidade única. Eram as coisas dele.
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