um bocadinho de clarice, que é bom pra afinar o sangue, clarear as vistas e liberar as vias respiratórias.

Disse o profeta:

O NASCIMENTO DO PRAZER

(trecho)

O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida - e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom - como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.

POR NÃO ESTAREM DISTRAÍDOS

Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles. Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles. Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração. Como eles admiravam estarem juntos! Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos.


Clarice Lispector

Disse o profeta:

Dica de ouro para os capitalistas iniciantes:
nunca faça brincadeiras com a ideologia do chefe,
mesmo que ele se auto proclame o antiguru.
Disse o profeta:

Essa eu desenterrei do dia 11 de março de 2005.

rage

Todos temos o direito de sermos e termos na medida exata de nossas capacidades. Menos quando se fala no amor. Neste universo são outras as leis e a medida do que seremos cobrados pela justiça divina é a do nosso egoísmo. Isso é definitivo. Eu vou pro céu!
A minha mão toca a mão de deus e do diabo, quando te digo: vem. Porque em mim moram o ódio profundo e o amor sem fim.
Dividido e reagrupado pela dor e pela luz do sol, toda força que emanar do meu coração é a de mil terremotos. Cuida que tua alma esteja guardada nessa hora. Minha fúria é autêntica e eficaz. Seu destino é certo e não há tempo para arrependimentos.
Tudo o mais é superfície.
Todo dia será o último.
E a dor, eternamente cobrada pelos anjos do senhor.