Disse o profeta:

No outro domingo conheci dois casais de franceses aqui na ilha. Lamentei profundamente que nenhum deles arranhasse o português ou espanhol. Eu, por outro lado, tenho aquele francês de rótulo de vinho. Mais umas sacanagens e umas palavras colhidas em filmes, ainda raros, nos cinemas da cidade. Estabelecemos então, para tristeza de todos, o inglês como forma de comunicação.
Disse-me o gaulês de olhos azuis, que vinha da terra de Asterix (Bretagne), enquanto eu namorava a mesa, cheia de deliciosas tortas típicas francesas, doces e salgadas.
Falamos de geografia, biografias, música, trabalho e política, quando sem mais delongas, apresentou-se o convidado de honra da festa. Um tal vinho francês. Foi nesta hora que comecei a gemer. Meio sem querer, meio de piada, mas absolutamente sincero. Que maravilha.
E, claro, diante da situação, de barriga cheia de quitutes franceses, já meio alto do bordeaux que rolava, comecei a filosofar. Meu novo amigo, digamos que se chamasse Jean-Paul, era especialista em fazer forros de casas. Rufér, como dizia. Já da quarta geração de ruférs. Tinha as mãos e a agitação física de quem trabalha pesado. Mas tinha acesso a: boa comida, boa casa, bons vinhos (not every day, disse o risonho amigo).
Ensinou-me que para saber se um vinho era bom, bastava ver se o rótulo estava mofado e rasgado pela ação do tempo. Daí para formularmos maneiras de falsificar, foi o tempo de mais uns goles.
E eu, o sonhador bobalhão, pensava no trabalhador brasileiro. Nem boa cachaça, quanto mais bom vinho.
Uma garrafa daquelas, devia custar meio salário-mínimo brasileiro.
Daí que os caras do PT saiam roubando adoidado, quando sentem o gostinho do poder, da grana, tem uma distância.
Tem?

Nilo Neto